O perigo e a ameaça é real: o lixo no mar causa prejuízos ambientais, econômicos e aos banhistas, por isso a insistência neste assunto é tão urgente e atual, visto que com a pandemia do coronavírus o uso de materiais descartáveis aumentou, contribuindo para poluir ainda mais praias e oceanos.
Um estudo realizado pela Universidade de Queensland, na Austrália, aponta que a contaminação dos oceanos, principalmente por plásticos, é responsável pela morte de cerca de 100 mil animais todos os anos. Segundo o presidente do conselho da Associação MarBrasil, Ariel Scheffer, cerca de 700 espécies marinhas são afetadas pela poluição plástica nos mares, incluindo mais de 260 espécies sob algum grau de ameaça de extinção.
“Muitos animais se enroscam e ficam feridos ao terem contato com esse tipo de material, mas o problema principal é a ingestão do plástico, que não é um elemento natural no trato digestivo e acaba causando a morte”, explicou Ariel Scheffer.
Mesmo em tempos de pandemia, as pessoas continuam a frequentar as praias e descartar de forma irregular os materiais descartáveis, principalmente a máscara. O fato foi relatado pelo Instituto Argonauta para Conservação Costeira e Marinha que identificou o problema em praias de Ubatuba, Ilhabela e outros municípios do litoral paulista.
“As máscaras têm componentes orgânicos e sintéticos, e o descarte incorreto tanto pode representar um risco a saúde humana, porque uma máscara de alguém contaminado ainda pode conter por algum período o vírus, quanto elas representam um risco a fauna marinha, como todo resíduo sólido humano de uma forma geral”, explica o oceanógrafo Hugo Gallo Neto, diretor executivo do Aquário de Ubatuba e do Instituto Argonauta.
Além de impactar as espécies marinhas, os resíduos descartados nas praias também interferem na vida dos banhistas, que podem se ferir com determinados objetos. A sujeira também reduz a balneabilidade, que é o índice usado para verificar a qualidade da água destinada à recreação. Desse modo, ela se torna imprópria para o banho, podendo gerar contaminação por doenças de pele.
Mas o problema não está apenas nos chamados “macroplásticos”, que são facilmente visíveis por pessoas e animais. As partículas de plástico com menos de cinco milímetros, denominadas de “microplásticos”, podem ser ingeridas indiretamente por peixes, aves, tartarugas e mamíferos marinhos, levando seis vezes mais tempo para serem eliminados do organismo do que o macroplástico, que é ingerido diretamente.
Em muitos casos, estes microplásticos entram na cadeia alimentar do homem, quando ele se alimenta de frutos do mar. “Dos animais encontrados mortos, 100% das tartarugas verdes e 75% das aves marinhas possuem algum tipo de plástico no estômago”, explica Ariel Scheffer, presidente do conselho da Associação MarBrasil.
Por fim, o lixo no mar afeta também a economia dos municípios, que precisam aumentar as despesas com a limpeza das praias e perdem a receita com o turismo. No setor da navegação e nas atividades pesqueiras, a produtividade tende a diminuir devido à morte dos peixes e à poluição dos oceanos, causada por esse lixo descartado de forma irregular.