Cores que respeitam o planeta: como escolher tintas sustentáveis para fachadas
Beleza, saúde e eficiência energética em harmonia com o meio ambiente

A escolha das cores para fachadas de uma casa ou edifício é responsável pela identidade visual e faz parte do universo simbólico do local. Tanto que pinturas tornaram moradias ícones mundiais, como as casas da vila Kampong Pelangi, na Indonésia; da cidade azul de Chefchaouen, no Marrocos; ou da Steiner Street, em São Francisco, nos Estados Unidos. Mas a escolha das tintas vai além da cartela de cores e está também ligada à uma decisão que influencia a durabilidade da obra, a qualidade do ar e o futuro do planeta. A boa notícia é que o mercado oferece, cada vez mais, opções de tintas sustentáveis que unem beleza, performance e responsabilidade ecológica.

Mas, afinal, quais são os impactos que as tintas e seus compostos químicos trazem para o meio ambiente? Como as cores influenciam os aspectos emocionais e de conforto dos moradores ou usuários das edificações? Qual a relação da tonalidade da cor com o desempenho térmico da edificação? São perguntas importantes para se fazer antes de buscar as marcas no mercado.
De acordo com equipe técnica da certificação AQUA-HQE, da Fundação Vanzolini, as tintas sustentáveis são aquelas que minimizam o impacto ambiental e os riscos à saúde. “Elas geralmente possuem base água, baixo teor de compostos orgânicos voláteis (COVs) e podem ser identificadas por selos verdes”.
Segundo o EPA (United States Environmental Protection Agency), Compostos Orgânicos Voláteis (COVs) são substâncias químicas orgânicas que evaporam facilmente à temperatura ambiente. Neste contexto, a emissão destes poluentes no ambiente interno e externo pode contribuir para a degradação da qualidade do ar e provocar efeitos adversos à saúde humana. Altos níveis de COVs estão associados a problemas respiratórios, alergias e dores de cabeça.

As tintas sintéticas tradicionais, à base de derivados de petróleo, são campeãs em emissões de COVs. Elas, de modo geral, são fabricadas por meio de um processo químico que envolve a mistura de pigmentos (cor e cobertura), resinas (aderência e película protetora), solventes (fluidez e evaporação) e aditivos (melhoram propriedades específicas).
Os especialistas reforçam que a ausência ou baixa emissão de COVs é apenas um dos critérios relevantes para aferir a sustentabilidade das tintas, mas está longe de esgotar o tema. “Para que a alegação de sustentabilidade seja válida, é necessário considerar o ciclo de vida completo do produto, que abrange a extração de matérias-primas, processos de fabricação, transporte, aplicação, desempenho em uso (como durabilidade e necessidade de repintura) e descarte final”.

No âmbito do referencial AQUA-HQE™, a recomendação é priorizar materiais que possuam Declaração Ambiental de Produto (EPD), verificada por terceira parte, pois esse é o instrumento que garante dados confiáveis, comparáveis e transparentes sobre impactos ambientais ao longo do ciclo de vida.
A escolha e especificação consciente e sustentável de materiais traz como um de seus requisitos a baixa emissão de poluentes, que são medidos de acordo com as normas da família ISO 16000 e orientações da lista do IARC (International Agency for Research on Cancer – Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer).
Além disso, a escolha das cores pode impactar o desempenho térmico da edificação. “Numa livre analogia, poderíamos trazer a questão para a esfera das vestimentas. Em um dia quente, geralmente, escolhemos uma roupa mais clara e com as tintas a relação é a mesma. Tons claros possuem alto albedo, o que significa maior reflexão de radiação solar e menor absorção de calor. Assim, em climas quentes, tons claros ajudam a reduzir a necessidade de ar-condicionado e diminuem o consumo de energia”.

A estética, a temperatura e até o cheiro das tintas influenciam o humor e o bem-estar das pessoas. Paredes com cores suaves e tintas não tóxicas podem reduzir a ansiedade, melhorar a concentração e promover uma sensação de acolhimento.
“Tons neutros e terrosos, em alta nas tendências atuais, são ideais para projetos que valorizam a sustentabilidade. Além disso, é essencial que as cores da fachada estejam em harmonia com o clima da região e a vegetação do entorno, criando uma integração visual e ambiental mais equilibrada”, recomendam os especialistas.
Impactos ambientais das tintas

O impacto ambiental de uma tinta vai muito além de sua composição química. Ele se estende por todas as etapas do seu ciclo de vida, como demonstram as EPDs (Declarações Ambientais de Produto), elaboradas conforme a Norma Europeia EN 15804:
- Matérias-primas: A extração e o processamento de resinas, pigmentos, cargas minerais e aditivos representam uma parcela significativa das emissões de CO₂ e do consumo de recursos naturais.
- Transporte até a fábrica: A movimentação das matérias-primas envolve o uso de combustíveis fósseis, contribuindo para a emissão de gases poluentes.
- Produção: As etapas de mistura, dispersão e envase demandam alto consumo de energia e geram efluentes e resíduos que precisam ser tratados adequadamente.
- Transporte e aplicação: O envio do produto ao canteiro de obras e sua aplicação podem gerar perdas de material, uso excessivo de embalagens e emissão de compostos orgânicos voláteis (COVs).
- Uso e manutenção: A durabilidade é um fator crítico, especialmente em fachadas. Tintas que exigem repintura frequente aumentam consideravelmente o impacto ambiental acumulado ao longo da vida útil do edifício.
- Descarte: O manejo inadequado de sobras de tinta e embalagens pode causar contaminação do solo e da água, reforçando a importância de uma destinação correta.