O Nós e o Todo
Socialmente isolado na Casa ARCA, em tempos de covid-19, Marko Brajovic parece ter ainda mais convicção nos ideais que norteiam sua vida e seu processo criativo. O arquiteto e designer croata, formado pela Universidade de Veneza (IUAV), dedicou sua carreira à um meticuloso trabalho de tradutor, não de um idioma para outro, mas da linguagem da natureza para a linguagem do projeto, do design, do urbanismo. É da natureza que vem a inspiração de tudo que faz. “A conexão com a natureza é fundamental para a sobrevivência da nossa espécie. Estamos finalmente conscientes de que fazemos parte do todo, e que tudo está interconectado. Há uma interdependência entre todos os sistemas vivos”.
“Esse grande momento difícil deixa claro que fazemos parte de um organismo vivo, não de uma máquina”, explica. O discurso de Brajovic – que vive no Brasil desde 2006 – transcende a arquitetura. Sua reflexão diz respeito à sociedade e a forma como tomamos parte nela. Citando a ativista Greta Thunberg “Change Is Coming Whether You Like it or Not’” (a mudança está vindo quer você queira ou não), ele entende que a mudança implicará, necessariamente, em uma mudança na forma de projetar. O arquiteto propõe um pensar ecológico, que atravessa os mais variados aspectos sociais e comportamentais da “civilização”: como consumimos, como habitamos, como produzimos, como nos enxergamos.
No centro da filosofia está a ideia de que a natureza não está somente nas florestas, mas em tudo, em todos. Assim, para garantir a permanência humana, é preciso se conectar com ela e aprender seus mecanismos. “A natureza é um designer de 3,8 bilhões de anos”, diz. Peixes, aves, mamíferos, insetos são perfeitamente adaptados ao seu ambiente. A natureza não é focada em de oferecer um produto final, mas soluções flexíveis, graças à mudança constante vinda do processo evolutivo. “O homem aprende com a natureza desde os tempos ancestrais, até chegar no momento dramático que vivemos hoje”. Agora, Brajovic acredita ter chegado a hora de redesenhar a forma como existimos. “Temos que aprender como não gerar lixo, porque na natureza nem há o conceito de lixo, como gerar energia limpa, como nos alimentar de forma cíclica e saudável”.
Em seu atelier, Brajovic instrumentaliza essa conexão por meio de três correntes: o estudo comportamental (como as pessoas agem), fenomenologia (como a física age) e a Biomimética (como a natureza age); “A Biomimética é uma das metodologias que nos oferece essas técnicas de compreensão da biologia e de sua traslar seu conhecimento para outras áreas”.