Sesc Pompeia: conheça o espaço que une arquitetura e cultura
Referência da arquitetura moderna no Brasil, o Sesc Pompeia une cultura, lazer e urbanidade em um projeto icônico assinado por Lina Bo Bardi

O Sesc Pompeia é mais do que um centro cultural ou esportivo: é um marco da arquitetura brasileira e um espaço simbólico para a cidade de São Paulo. Inaugurado na década de 1980, o projeto carrega a assinatura de Lina Bo Bardi, uma das mais importantes arquitetas da história do país.
Com um olhar humanizado e acessível, Lina transformou um antigo complexo fabril em um ambiente plural, onde cultura, lazer e convivência se encontram em perfeita harmonia. Localizado na Zona Oeste de São Paulo, o Sesc Pompeia é um exemplo admirável de como a arquitetura pode dialogar com seu entorno, respeitar a memória do espaço e, ao mesmo tempo, propor soluções urbanas inovadoras.

Ao entrar no Sesc Pompeia, percebe-se que o projeto vai muito além de um conjunto de edifícios. É uma verdadeira experiência urbana. As passarelas aéreas, os blocos de concreto aparente e os espaços abertos dialogam com o visitante de forma instintiva, convidando à interação e ao uso coletivo. Ali, a arquitetura não se impõe como monumento, mas como palco para a vida cotidiana.
A história do projeto e seu conceito

O Sesc Pompeia nasceu do desejo de criar um centro cultural, esportivo e social que integrasse diferentes atividades para a comunidade.
O local escolhido, na Avenida Pompeia, abrigava desde a década de 1920 as instalações de uma antiga fábrica de tambores, a Indústrias de Objetos de Aço Pompeia. Ao invés de demolir o espaço e construir algo novo, Lina Bo Bardi propôs a recuperação dos galpões existentes, respeitando suas características originais e acrescentando novas estruturas que dialogassem com o passado.

O conceito desenvolvido pela arquiteta se baseava na ideia de “fábrica de cultura” — um lugar vivo, plural e acessível, onde as pessoas pudessem se reunir, praticar esportes, apreciar arte e se relacionar. Lina acreditava que a arquitetura deveria estar a serviço da sociedade, criando espaços democráticos que respeitassem a história e, ao mesmo tempo, oferecessem novas possibilidades para o futuro. Essa visão se materializa no projeto do Sesc Pompeia, onde o antigo e o novo convivem de forma harmônica, criando uma narrativa arquitetônica única.

A concepção e execução do projeto contaram com uma equipe talentosa que colaborou diretamente com Lina Bo Bardi. Os arquitetos André Vainer e Marcelo Ferraz, este último cofundador do escritório Brasil Arquitetura, participaram ativamente do desenvolvimento do Sesc Pompeia.
Essa colaboração foi fundamental para a consolidação das ideias de Lina e para a viabilização das soluções ousadas que o projeto propôs. A experiência de Marcelo Ferraz no Sesc Pompeia influenciou diretamente sua trajetória posterior, marcada por projetos que valorizam a memória arquitetônica, a função social dos espaços e a integração entre arquitetura e cidade — princípios que também norteiam o trabalho do Brasil Arquitetura.

Inaugurado em etapas, entre 1982 e 1986, o projeto foi dividido em dois setores principais: o conjunto dos antigos galpões, restaurados e convertidos em áreas de convivência, teatro, bibliotecas, oficinas e restaurantes; e os novos edifícios de concreto, onde estão localizadas as quadras esportivas e espaços multiuso. Ligados por passarelas aéreas, esses blocos se tornaram um dos símbolos mais conhecidos do projeto.
Soluções inovadoras

O projeto do Sesc Pompeia é um verdadeiro laboratório de soluções arquitetônicas e urbanísticas. Uma das inovações mais marcantes foi a decisão de preservar as estruturas industriais pré-existentes. Lina Bo Bardi preferiu restaurar e adaptar os antigos galpões da fábrica, ao invés de substituí-los, valorizando a memória do lugar e sua identidade. Essa atitude, pouco comum na época, antecipou práticas de requalificação urbana que se tornariam tendência nas décadas seguintes.

Outro elemento inovador são as passarelas aéreas que ligam os blocos de concreto. Suspensas no ar, elas rompem a separação entre edifícios e espaços públicos, criando conexões horizontais e verticais dentro do complexo. Mais do que soluções funcionais, essas passarelas se tornaram ícones arquitetônicos, desafiando a rigidez urbana e propondo novas formas de circulação e encontro.
A escolha pelo concreto aparente também foi significativa. Ao deixar a estrutura exposta, Lina deu ao material uma função estética e simbólica, conferindo ao espaço um caráter brutalista, ao mesmo tempo cru e acolhedor. As janelas circulares irregulares, os grandes vãos e os espaços generosos permitem uma arquitetura aberta, permeável e receptiva, reforçando a proposta de democratização do acesso aos bens culturais e esportivos.

Outro destaque do projeto é o respeito ao entorno e à escala humana. Lina Bo Bardi desenhou o espaço pensando nas pessoas, em suas relações e modos de convivência, evitando monumentalidades e priorizando o uso cotidiano. A própria disposição dos ambientes e a variedade de usos incentivam o encontro, o diálogo e a ocupação espontânea, reafirmando o papel da arquitetura como agente social.
A importância do uso público do espaço

Desde sua inauguração, o Sesc Pompeia se consolidou como um dos espaços públicos mais vibrantes e inclusivos de São Paulo. Seu projeto foi concebido para ser aberto, democrático e acessível, funcionando como uma extensão da cidade. Não é à toa que o Sesc Pompeia se tornou ponto de encontro não apenas de artistas, esportistas e estudantes, mas também de famílias, trabalhadores e moradores da região.

O uso público é, de fato, o coração do projeto. Lina Bo Bardi acreditava na importância dos espaços de convivência como ferramentas de transformação social. No Sesc Pompeia, essa filosofia se manifesta nos ambientes flexíveis, nas áreas comuns abertas e na diversidade de atividades oferecidas. O centro promove exposições, apresentações musicais, peças de teatro, oficinas, debates, cursos e práticas esportivas, tornando-se um verdadeiro polo cultural para todas as idades e perfis.

Além disso, o projeto rompe com a ideia de arquitetura fechada e exclusiva. Ao contrário de museus ou centros culturais tradicionais, o Sesc Pompeia é um espaço que convida o público a ocupar seus ambientes de maneira natural e espontânea. Os jardins, as mesas comunitárias, o vão livre e até as passarelas são ocupados de forma orgânica, criando uma dinâmica urbana viva e pulsante. Esse caráter público e aberto faz do Sesc Pompeia um exemplo de como a arquitetura pode contribuir para a construção de cidades mais inclusivas e humanas.
Influência na arquitetura contemporânea

O legado arquitetônico e conceitual do Sesc Pompeia ultrapassou fronteiras e se tornou referência não só no Brasil, mas também no exterior. A proposta de Lina Bo Bardi de recuperar estruturas industriais e transformá-las em espaços culturais abriu caminho para uma série de projetos de requalificação urbana que, nas décadas seguintes, ganharam força em todo o mundo. Hoje, é comum encontrar fábricas, galpões e armazéns revitalizados como centros culturais, coworkings, museus e espaços multiuso — muitos deles inspirados na abordagem de Lina.
Além disso, o projeto do Sesc Pompeia ajudou a fortalecer a corrente arquitetônica que valoriza o uso social dos espaços e a integração entre arquitetura e cidade. Sua linguagem brutalista, sua simplicidade construtiva e seu compromisso com a memória histórica influenciaram arquitetos brasileiros e internacionais, contribuindo para o debate sobre urbanismo, patrimônio e inclusão social.
O próprio conceito de arquitetura democrática e participativa defendido por Lina Bo Bardi no Sesc Pompeia se tornou pauta recorrente nos projetos contemporâneos. Cada vez mais, arquitetos e urbanistas buscam soluções que priorizem o uso coletivo, o acesso livre e a convivência, reconhecendo o papel social da arquitetura na construção de cidades mais justas e humanas. Assim, o Sesc Pompeia não é apenas um marco físico, mas um manifesto vivo que segue inspirando gerações.
Texto feito com o apoio de CASACOR Publisher, um agente criador de conteúdo exclusivo, desenvolvido pela equipe de Tecnologia da CASACOR a partir da base de conhecimento do casacor.com.br. Este texto foi editado por Yeska Coelho.