Na contramão dos traços racionalistas da arquitetura moderna, Artacho Jurado desenvolveu projetos que destacavam elementos da decoração, cores vibrantes e espaços de convivência. O arquiteto enxergava além da sobriedade e racionalidade geométrica que marcava o mercado imobiliário do período: essa visão foi responsável por consagrá-lo como uma espécie de aquarelista da paisagem urbana de São Paulo.
É este espírito que, de 20 de junho a 15 de setembro, a Ocupação Artacho Jurado, apresenta ao público no espaço Multiuso, localizado no segundo piso do Itaú Cultural. Cerca de 130 peças, entre imagens, fotografias, vídeos, desenhos originais, publicidade de época, uma maquete e o acervo pessoal da família Jurado permitem ao público se aprofundar na vida e obra do autor de edifícios icônicos da capital paulista.
“Procuramos revelar a pragmática construtiva de Artacho. Seguimos menos pelo raciocínio das ideias ou do teórico, já que a arquitetura dele foi pouco considerada em termos acadêmicos, para olhar para os aspectos construtivos dos materiais formais que é aquilo em que ele mais se debruçava”, explica Guilherme Giufrida, antropólogo e um dos curadores da Ocupação.
Ao envolver o público com o som das óperas favoritas do arquiteto e a vista de alguns de seus apartamentos, a exposição apresenta o legado arquitetônico deixado por Artacho na história da arquitetura da cidade e na indústria dos empreendimentos imobiliários.
A curadoria da exposição ainda revela a história de Jurado antes de se adentrar na construção arquitetônica. Ele começou a sua carreira como letrista de cartazes, estandartes, feiras e exposições, na década de 1920, depois passou a desenhar estandes para feiras industriais e se estabeleceu como organizador de grandes eventos da cidade. Fotos da época de neons, luminosos publicitários produzidos e estandes criados para as feiras ilustram este trecho da exposição.
Um dos destaques da mostra é a presença de uma grande maquete comissionada, que mostra os edifícios mais importantes do arquiteto e como foram inseridos na topografia de São Paulo e de Santos e apresenta uma cronologia geolocalizada de seus projetos.
Além disso, a mostra foca no conceito de lazer e ócio impregnado por Artacho em seus empreendimentos. Ele foi pioneiro na oferta, no térreo e na cobertura dos projetos, de áreas comuns, onde os moradores poderiam se encontrar e confabular, entre salões de festas, de chá, de música e galerias de arte. O visitante pode viajar pelo ar festivo que embalava as inaugurações dos prédios de Artacho Jurado, marcadas por um estilo de vida no gênero “american way of life”.
A riqueza da proposta construtiva de Artacho também se evidencia nos estudos que realizou para os seus diversos projetos – inclusive aqueles que nunca saíram do papel, como o Edifício Marajoara. O conjunto de documentos inéditos apresentados nessa mostra permite conhecer as diferentes etapas de um projeto arquitetônico: estudos de volumetria, esboços de ambientes internos, hall, salões, fachadas e terraços, além das perspectivas coloridas utilizadas para apresentar e vender os empreendimentos aos futuros moradores.
Uma parede inteira do espaço expositivo é dedicada ao que os curadores chamam de gramática de Artacho. Ela acolhe um ensaio fotográfico comissionado do fotógrafo Tuca Vieira que revela em detalhes os seus elementos construtivos, propondo uma pesquisa abrangente sobre a estética do arquiteto e seu desenvolvimento no tempo, a partir de alguns de seus edifícios.
Serviço
Ocupação Artacho Jurado
Quando: 20 de junho até 15 de setembro de 2024
Onde: Itaú Cultural – Avenida Paulista, 149, próximo à estação Brigadeiro do metrô.
Visitação: Terça-feira a sábado, das 11h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h.
Entrada gratuita.