Cine Paissandu reabre com videoinstalações de Manoela Cezar
Fechado há mais de 20 anos, cinema histórico recebe obras inéditas de Manoela Cezar que exploram memória, abandono e fantasmagoria urbana

Símbolo da era de ouro do cinema paulistano nos anos 1950, o Cine Paissandu reabre suas portas após mais de duas décadas fechado. A partir de 16 de agosto, o espaço tombado recebe duas videoinstalações inéditas de Manoela Cezar: Caverna Fantasma e Paissandú Drive In. Criadas especialmente para o local, as obras exploram sua condição atual — parte convertida em estacionamento, parte intocada desde o encerramento das atividades no início dos anos 2000.

Memória em suspensão
Localizado no Largo do Paissandu, no centro de São Paulo, o cinema fez parte da antiga “Cinelândia Paulistana”, reduto de grandes salas até os anos 1970. Após tentativas frustradas de novas funções — de igreja a casa noturna —, acabou entregue à lógica urbana de ocupar espaços ociosos com carros. Para Cezar, suas obras dialogam com esse limbo: “São comentários sobre o abandono de equipamentos culturais e o que permanece como vestígio e memória”.

Em Paissandú Drive In, imagens contínuas de estradas são projetadas no local original da tela, sem interromper o fluxo do estacionamento. O público pode assistir à instalação de dentro do carro ou a pé, enquanto os veículos vazios tornam-se, ironicamente, espectadores privilegiados.

Já Caverna Fantasma transforma corredores técnicos, salas de máquinas e áreas ocultas em cenário para um espectro de luz que percorre o prédio até a sala de projeção. Projetada em tela translúcida, a obra cria um jogo entre visível e invisível, intensificado pela trilha sonora hipnótica composta em parceria com a musicista Juliana R.
Ocupação artística
Durante seis meses, Manoela usou o Cine Paissandu como ateliê, produzindo registros fotográficos, audiovisuais e gravuras em diálogo com a história do espaço. Para a artista, devolver luz e circulação a uma sala que permaneceu 20 anos no escuro é parte essencial do trabalho. O texto curatorial de Marcela Vieira reforça essa dimensão arqueológica: “Não é apenas um comentário sobre o estado atual do cinema, mas uma contribuição ao pensamento do cinema como forma exposta à deterioração, porém resistente”.

Entre ruínas e permanências
A mostra também ecoa histórias de outras salas do centro paulistano, como o Cine Marrocos, desativado em 1994 e ocupado pelo MTST em 2013, e o Cine Metrópole, restaurado e convertido em espaço para eventos. Assim como em documentários recentes — Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho, e Cine Marrocos, de Ricardo Calil —, as obras de Cezar lidam com a sobrevivência dos cinemas como memória, ruína e resistência.
Serviço
Caverna Fantasma e Paissandú Drive In, de Manoela Cezar
- Local: Cine Paissandu – Largo do Paissandu, 62
- Visitação: até 31 de agosto de 2025, de quarta a domingo, das 13h às 18h
- Entrada gratuita – acessibilidade garantida, com audiodescrição e versão em áudio do texto curatorial.