A gentrificação vem alterando a paisagem de muitos centros urbanos ao redor do mundo. Nos grandes centros, esse fenômeno é visível pela revitalização de áreas anteriormente degradadas, geralmente acompanhada por um aumento no custo de vida e deslocamento de moradores de baixa renda. A especulação imobiliária é uma das principais forças motrizes, atraindo investidores que veem nesses espaços uma oportunidade de lucro, modificando radicalmente a dinâmica social e econômica desses locais.

O que é gentrificação e como surgiu o conceito
O termo “gentrificação” foi criado pela socióloga britânica Ruth Glass na década de 1960 para descrever a substituição de populações operárias por classes médias e altas. Ela observou mudanças em bairros de Londres, como Islington, onde classes mais ricas substituíram moradores tradicionais e provocaram aumento nos custos habitacionais.

Para Glass, esse fenômeno produz alterações culturais, sociais e econômicas que redesenham a dinâmica original dos bairros urbanos. Exemplos desse fenômeno podem ser vistos em cidades como Nova York, Berlim e São Paulo, onde comunidades tradicionais são obrigadas a se deslocar por conta da valorização causada pelos novos projetos imobiliários.
Impactos da gentrificação
A gentrificação é um processo de transformação urbana que ocorre quando áreas anteriormente pertencentes a bairros menos valorizados são revitalizadas, geralmente por meio de investimentos imobiliários, o que atrai uma população mais abastada para a região. Embora o processo de gentrificação possa trazer melhorias em termos de infraestrutura, ele também pode causar vários impactos negativos, especialmente para os moradores originais dessas áreas.
1. Deslocamento de moradores originais
Um dos impactos mais significativos da gentrificação é o deslocamento forçado de moradores de classes baixas ou médias. Com a chegada de novos moradores mais ricos, o custo de vida na área aumenta, o que leva a um aumento nos aluguéis e nos preços das propriedades.
2. Perda de identidade cultural
À medida que as áreas se tornam mais atraentes para uma população distinta, muitas vezes ocorre uma mudança cultural. Restaurantes, lojas e espaços públicos são transformados para atender aos gostos e preferências da nova classe, enquanto negócios tradicionais e culturais da comunidade original são substituídos. Isso pode resultar na perda de tradições culturais e de um senso de pertencimento, alterando profundamente a identidade da comunidade.
3. Aumento das desigualdades sociais
A gentrificação tende a aprofundar as desigualdades sociais. As novas infraestruturas e o aumento do valor imobiliário muitas vezes beneficiam mais as classes altas, enquanto os residentes mais pobres se tornam ainda mais marginalizados. Esses impactos podem exacerbar as divisões socioeconômicas e tornar a cidade mais segregada, com áreas de alta renda se separando cada vez mais das áreas de baixa renda.
4. Aumento no custo de vida
A chegada de empresas e consumidores de classe alta eleva o custo de vida de toda a área. Alimentos, transporte, serviços e outros bens de consumo tornam-se mais caros, tornando a vida diária mais difícil para aqueles que estavam acostumados com os preços mais baixos das áreas antigas. Esse aumento no custo de vida é uma das principais razões pelas quais os moradores originais são forçados a sair.
A falta de planejamento urbano como fator agravante
A ausência de um planejamento urbano eficiente e de um plano diretor eficaz favorece a gentrificação. Sem regulações que garantam a permanência das populações vulneráveis, a revitalização de áreas urbanas acaba beneficiando apenas o setor privado. A falta de investimentos em habitação popular e acesso a serviços essenciais empurra moradores de baixa renda para regiões periféricas, aumentando o tempo de deslocamento e dificultando sua integração na cidade.

Direito à cidade e acesso à moradia
Diversos autores se dedicaram ao tema, como o filósofo francês Henri Lefebvre, o geógrafo brasileiro Milton Santos e a urbanista Ermínia Maricato. Lefebvre defende a participação ativa da população na produção do espaço urbano e critica a apropriação privada dos bens públicos. Milton Santos aborda a mercantilização das cidades, argumentando que o planejamento urbano deve priorizar o bem-estar coletivo e não apenas interesses econômicos. Já Ermínia Maricato destaca a importância de políticas habitacionais para evitar a exclusão social e garantir moradia digna a todos os cidadãos.

O Estatuto da Cidade e suas estratégias para combater a gentrificação
O Estatuto da Cidade, instituído pela Lei Federal nº 10.257/2001, estabelece diretrizes para um desenvolvimento urbano mais inclusivo. Entre suas estratégias, destacam-se a função social da propriedade, a regularização fundiária e os instrumentos de gestão democrática, como o Plano Diretor. Medidas como o IPTU progressivo e a destinação de áreas para habitação social são fundamentais para mitigar a gentrificação e garantir o direito à cidade para todos.

Caminhos para mitigar a gentrificação
Para reduzir os impactos da gentrificação, é necessário fortalecer a legislação urbanística e garantir que planos diretores contemplem habitação popular. Medidas como a regulação do mercado imobiliário, incentivos à moradia social e a ampliação de serviços públicos em áreas centrais e periféricas podem equilibrar o crescimento urbano. Apenas com um planejamento inclusivo será possível construir cidades mais justas e acessíveis para todos.
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