64 anos de Brasília: marcos arquitetônicos que contam a história da cidade
Neste domingo, Brasília comemora mais um aniversário. E quem vai contar a história da cidade mais planejada do país é a arquitetura!
No dia 21 de abril de 1960, um projeto existente desde o Brasil Colonial finalmente saiu do papel. Ao longo do século XIX, a transferência da capital do país já era uma pauta presente na agenda política do Estado e, posteriormente, foi também pensada por Getúlio Vargas em seus dois mandatos. Após uma sucessão de engavetamentos da ideia, em 1956, o presidente Juscelino Kubitschek deu início a essa empreitada. Quatro anos depois, Brasília foi construída.
Desde então, a história da capital do Brasil pode ser contada partir de sua destacada arquitetura. Neste aniversário de 64 anos de Brasília, resgatamos marcos arquitetônicos que revelam uma série de elementos históricos da cidade.
Rodoviária do Plano Piloto, o Marco Zero da Capital
Poderia se dizer que foi no terminal rodoviário arquitetado por Lúcio Costa onde tudo começou. A Rodoviária do Plano Piloto é a edificação que foi erguida bem em cima do local que marca o início da construção da capital do país, o Marco Zero de Brasília.
No entanto, isso é apenas uma denominação simbólica, porque o projeto da rodoviária começou apenas em 1958. Bem antes dessa data, já existiam obras no território, como o Catetinho, residência presidencial provisória inaugurada em 1956, além das ocupações dos operários que migravam para trabalhar na construção da cidade.
Considerada a mais complexa obra de Brasília, por pouco a plataforma rodoviária não foi construída dentro do tempo estabelecido por JK. Postergar a obra e deixar o cruzamento dos eixos para o próximo governo foi, inclusive, uma sugestão dada por Lúcio Costa ao presidente, que recusou.
Juscelino considerava essa construção imprescindível para o nascimento de Brasília, e assim foi: cinco meses após a inauguração oficial da capital, estava pronta a Rodoviária do Plano Piloto — até hoje o principal terminal de ônibus da cidade.
Brasília Palace Hotel
Inaugurado no mesmo dia do Palácio da Alvorada, 30 de junho de 1958, o Brasília Palace Hotel foi, por anos, o principal espaço de confraternização e convivência dos primeiros habitantes da capital, membros da alta sociedade, políticos, embaixadores, executivos e servidores estrangeiros. O lugar orquestrado por Oscar Niemeyer se tornou “o xodó” de JK, como o próprio presidente mesmo descreveu.
A paixão de Juscelino pelo Palace tinha motivo. O hotel se consagrou como um ícone do glamour e hospedou uma lista extensa de figuras notáveis, como a duquesa de Kent, da Inglaterra, o revolucionário Che Guevara, estrelas da música como Roberto Carlos, Wilson Simonal, Chico Buarque, Odair José, Raul Seixas e Ney Matogrosso e os comediantes Mussum e Zacarias. Além disso, o espaço foi cenário para o primeiro concurso de Miss Brasília de 1959 e no mesmo ano, Tom Jobim e Vinícius de Moraes apresentaram a música “Água de Beber” pela primeira vez.
Em 1978, uma cafeteira esquecida na tomada provocou um incêndio no hotel, catastrófico o suficiente para fechar o lugar por mais de 20 anos. Uma ampla reforma foi realizada e, em 2005, o hotel se reergueu com quase todas as suas características originais projetadas por Niemeyer.
Parque da Cidade
Avançando na cronologia, temos o Parque da Cidade — ou o lugar onde Eduardo e Mônica se encontraram na música de Legião Urbana. O cenário da famosa canção foi inaugurado em 1978, quando já haviam se passado quase duas décadas desde o nascimento oficial da cidade. O contexto era de crescimento urbano e Brasília necessitava de mais espaços públicos.
Diante disso, o governador Elmo Serejo Farias criou, entre a Asa Sul e o Setor Sudoeste, um parque que viria a ser considerado o maior parque urbano da América do Sul. Com o objetivo de oferecer um serviço de lazer à população e ainda amenizar os impactos climáticos do Cerrado, foi concretizado o projeto urbanístico realizado Lúcio Costa, com prédios dos arquitetos Oscar Niemeyer e Glauco Campelo, azulejos de Athos Bulcão e paisagismo de Burle Marx.
O Parque da Cidade se consolidou como um dos principais espaços públicos de entretenimento de Brasília, além de ponto turístico para os que visitam a capital brasileira. Hoje, em seus 420 hectares de área verde, ele conta com diversos artifícios de lazer, como quadras poliesportivas, lagos artificiais, pistas de corrida, pedalinhos, centro hípico, kartódromo e bicicletas.
Campus Darcy Ribeiro
O campus mais antigo da Universidade de Brasília (UnB), projetado por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, também carrega um apanhado de elementos históricos da capital do Brasil. A começar pelo nome, que homenageia Darcy Ribeiro, antropólogo e ministro da educação de João Goulart, presidente que autorizou a criação da Universidade em 1961.
Por mais que a UnB tenha sido construída após o Plano de Metas de JK e em outro governo, o projeto de construção da Universidade esteve alinhado aos princípios de modernização propagados pela inauguração de Brasília. Darcy Ribeiro aspirava criar uma experiência educadora que avançasse nas pesquisas tecnológicas e elevasse o nível das produções acadêmicas.
Com a Ditadura Militar em 1964, o campus Darcy Ribeiro foi invadido e cercado várias vezes por militares e o Centro de Estudos e Planejamento Arquitetônico e Urbanístico da UnB foi desativado.
Na redemocratização, o campus volta a ser planejado, retomando o Instituto Central de Ciências da Universidade de Brasília (ICC), conhecido como Minhocão, como elemento central de estruturação do desenho urbano. Hoje, a UnB é uma das principais instituições de Ensino Superior do Brasil.
Superquadra 308 Sul
Ao estabelecer uma nova forma de se habitar uma cidade, as superquadras idealizadas por Lúcio Costa, são uma boa forma de sintetizar a importância histórica de Brasília. A superquadra 308 Sul, elaborada para servir de modelo para as outras, foi inaugurada em 1962.
Lúcio Costa projetava as superquadras como uma forma de romper com a desigualdade por meio do urbanismo. Seu objetivo era que elas fossem ocupadas pela classe trabalhadora e assim colocar as habitações das camadas populares em pé de igualdade dos palácios e edifícios monumentais presentes no outro eixo de Brasília. Isso, porém, não aconteceu.
As superquadras acabaram sendo destinadas às classes médias, enquanto a parcela mais pobre da população foi expurgada para as cidades satélites.
Mas o conceito de “superquadra” deixou seu legado no urbanismo brasileiro. A partir dele, crescem as concepções urbanísticas que pensam as habitações como abertas à cidade, e se contrapõe à ideia de “condomínio”, como área fechada e privativa.