Quando resolveu trocar o apartamento por um imóvel menor, de 84 m² na Gávea (RJ), a publicitária chamou os arquitetos Mariana Portillo e Pedro Pantoja, do escritório Bric Arquitetura (e elenco CASACOR Rio de Janeiro), para adaptar o espaço para seu novo momento de vida.

“Cada cliente tem um modo de vida e costuma permanecer mais em alguns ambientes da casa. Alguns pedem uma cozinha espaçosa, pois adoram cozinhar no dia a dia e receber os amigos no fim de semana, enquanto outros querem um quarto espaçoso, com canto de leitura e escritório integrado, por exemplo. Neste projeto, a moradora nos contou que a sala é o lugar da casa onde costuma ficar mais tempo e não cozinha com frequência. Por isso, na sala, ela pediu um local espaçoso e confortável para ver TV e uma mesa de jantar para receber os amigos”, conta Mariana.

Após a reforma, todas as paredes do apartamento foram movidas, a fim de personalizar as prioridades da cliente, como uma suíte e uma área social grandes, que quase quadruplicaram de tamanho. Para que a sala original de 12 m² se transformasse nos atuais 41 m², os arquitetos demoliram a cozinha, as dependências de funcionário e um dos três quartos, e distribuíram ao longo dos 43 m² restantes uma suíte master com closet, um banheiro completo e um cômodo híbrido, que funciona como escritório ou quarto de hóspede.

Já a cozinha e a lavanderia atuais são altamente equipadas, mas foram embutidas nas marcenarias projetadas pelos arquitetos em todo o perímetro da antiga cozinha e área de serviço, aproveitando, assim, as instalações de água e gás existentes e boa parte dos pisos originais. A nova configuração foi fundamental para liberar um espaço central generoso que passou a acomodar a mesa de jantar.

“Laqueamos essas marcenarias de branco e instalamos portas-camarão escamoteáveis para mimetizá-las nas paredes, que também são brancas, deixando tudo bem clean e prático. Todos os eletrodomésticos são de ótima qualidade e foram embutidos com segurança e beleza para não poluir visualmente, mesmo quando as portas estiverem abertas”, explica Pantoja.

Durante as demolições, eles descobriram que o apartamento tinha algumas diferenças de altura na laje dupla e, para não abrir mão do pé-direito, o que poderia comprometer a sensação de amplitude dos espaços, resolveram assumir esses desníveis no teto, aplicando uma solução em gesso curvo revestido com madeira natural, que apelidaram de “casco de navio”. “Sempre que nos deparamos com um obstáculo ao executar um projeto, buscamos enfatizá-lo de maneira elegante, ao invés de investir em soluções de disfarce. Desta forma, imprimimos ainda mais personalidade em cada trabalho”, conta a arquiteta.

Os arquitetos adotaram uma paleta de cores com base neutra – composta de branco, concreto original aparente e folha de madeira natural – para que os elementos de decoração, paisagismo e itens pessoais da cliente trouxessem pontos de cor, sem pesar visualmente nos espaços.

A seleção de mobiliários e outros itens de decoração priorizou peças com visual atual, leve e divertido. “Como a arquitetura do apartamento já tem um conceito e uma materialidade bem fortes e atemporais, na decoração buscamos elementos que contrastassem com essa arquitetura, de maneira harmônica”, explica Pantoja.

Destaque para a cadeira Tubo (de Guilherme Wentz), a mesa de centro (da Marcenaria Caravelas) e o tapete de fibra natural com trama grossa e listras pretas, que ambientam a sala de estar. Já no dormitório da suíte master, Pantoja ressalta a roupa de cama de linho puro europeu, em tom cáqui e duas criações do Sergio Rodrigues: o banquinho Mocho e a cadeira Oscar vintage.

“Para ressaltar o pé-direito e a materialidade que utilizamos, todo o apartamento foi iluminado de forma indireta a partir das paredes, com arandelas que rebatem a luz”, acrescenta Mariana.

Com relação aos materiais e acabamentos, a parede remanescente que demarca a área da cozinha foi descascada e deixada em concreto bruto aparente (no lado voltado para a sala), assim como parte do teto. A marcenaria desenhada pelo escritório ganhou acabamento em laca branca na cozinha e na lavanderia, cumaru maciço nos brises instalados no alto da parede da área de serviço (devido às funções molhadas) e em todo o apartamento foi utilizado folha natural de Goiabão, a exemplo da estante aérea da sala, as portas dos armários do quarto e do banheiro e o revestimento de algumas partes do teto.

O piso original em taco de peroba-do-campo foi mantido e recomposto nas áreas onde houve demolições. As cortinas são de cambraia de linho branco.


















