Durante anos, o empresário admirava o prédio dos anos 1960 em “Copanema” (RJ) com as jardineiras voltadas para a rua. Um dia, resolveu perguntar ao porteiro se havia algum apartamento disponível para venda. “Para minha surpresa, a resposta foi positiva. Havia uma unidade de 225 m²”, conta ele.

Antes de fechar negócio, agendou uma nova visita ao imóvel, desta vez na companhia do amigo arquiteto Fabiano Ravaglia (do elenco CASACOR Rio de Janeiro). “Mesmo no estado original, com ambientes bem compartimentados, fiquei muito bem impressionado com o apartamento, localizado acima das copas das árvores, com janelas amplas. Notamos que havia tábuas corridas de madeira sob o piso laminado bem deteriorado, que poderiam ser restauradas. Além disso, a planta permitia tornar a cozinha, que já era grande, ainda maior, bastando eliminar os quartos de serviço”, conta o profissional.

Com as chaves nas mãos, o pedido para o arquiteto foi por um projeto que fizesse o apartamento parecer uma tela em branco, com espaços abertos e clean para acomodar sua vasta coleção de arte e móveis brasileiros de design assinado, com direito ao sonhado jardim externo, distribuído em toda a extensão da janela da sala.

Inicialmente, a ideia era fazer apenas intervenções pontuais, trocando os revestimentos antigos por novos e atualizando a pintura. Mas, rapidamente, tanto o arquiteto como os novos proprietários perceberam o potencial do apartamento e o projeto ganhou corpo, resultando em uma reforma mais ampla e profunda, em todos os cômodos.

Com a reforma, a área de serviço foi aberta para a cozinha e esta foi integrada à sala íntima com TV, separadas apenas por uma grande península de cocção, que também serve de apoio para refeições rápidas e reuniões informais. Além disso, os dois quartos de serviço foram integrados para criar a lavanderia e a despensa.

Já na área íntima, o primeiro quarto foi preservado no original, o segundo quarto foi reduzido e transformado em escritório e o terceiro quarto foi incorporado à suíte do casal, abrindo espaço para um open closet.

Todos banheiros passaram por uma reforma completa, incluindo a remoção dos aquecedores de gás e banheiras, sem mexer nas alvenarias originais.

O conceito do projeto partiu, então, da coleção de arte dos moradores – composta de mais de 100 obras de artistas modernistas e artistas e fotógrafos contemporâneos que transitam na cultura pop (como Marcelo Solá, Terry Richardson, Burle Marx, Otto Stupakoff, Andy Warhol, Barsotti, Ivan Serpa, Djanira, Miguel Rio Branco, Volpi, Nelson Leirner, Di Cavalcanti, Ianelli, Eduardo Sued, Tomie Ohtake, Ângelo Venosa, Jeff Koons, Vik Muniz, Rubens Gerchman, Maritza Caneca, entre outros) – e do desejo do casal de viver em um apartamento com clima de galeria de arte.

O projeto também buscou imprimir nos interiores a atmosfera modernista dos anos 1960, com elementos arquitetônicos de linhas puras e estética minimalista, a exemplo dos banheiros com cerâmicas monocromáticas, a referência ao granilite no piso da cozinha e área de serviço, as marcenarias em madeira mais escura com partes em muxarabi, as paredes brancas e o piso de madeira em tábua corrida. “Atualizamos o conceito modernista, acrescentando mais texturas aos materiais, especialmente tecidos, cerâmicas, pedras e madeiras, para trazer acolhimento e aconchego”, diz o arquiteto.

O hall de entrada foi projetado para impactar logo na chegada, com paredes e portas revestidas com painéis de marcenaria em MDF no padrão nogueira, piso de tacos aproveitados dos antigos quartos de serviço (que foram eliminados na obra) e teto coberto com tela tensionada, que distribui a luz igualmente, de forma suave.

Dentro do apartamento, a maioria dos móveis modernistas foi trazida da residência anterior, com destaque para a poltrona Mole, a poltrona Diz e o banco Mocho (de Sergio Rodrigues), a mesa de jantar Tense (do italiano Piergiorgio Cazzaniga), as cadeiras LC7 (de Charlotte Perriand), as cadeiras Wish Bone (de Hans Wegner) e a poltrona La Chaise (de Ray e Charles Eames). Entre as novas aquisições, vale destacar o sofá-ilha Brandon (de LZ Studio), a mesa de centro Pétala (de Jorge Zalszupin), a mesa de centro Disforme (do Estudiobola), os bancos Toti (de Bernardo Figueiredo), o carrinho de chá Teca e o banquinho Phillips (de Jader Almeida) e a mesa-cubo com azulejos do Athos Bulcão.

Para acompanhar a madeira mais escura presente no piso de tábua corrida da área social e no taco na área íntima, o arquiteto elegeu o MDF no padrão nogueira para as marcenarias da sala e dos quartos. Como os moradores sonhavam em ter uma cozinha preta e minimalista, o espaço ganhou bancadas de granito preto escovado, armários em MDF no padrão madeira ebanizada e piso de porcelanato em tons de cinza, que lembra granilite.

Com exceção da parede da sala íntima com TV, revestida com painel de MDF amadeirado que mimetizada a porta de acesso aos quartos, todas as paredes foram pintadas de branco para destacar as obras de arte. “No lavabo, o piso e a bancada são de granito preto, os metais tem acabamento all black e as paredes e o teto foram pintados de cinza escuro para seguir a estética da cozinha, já que são cômodos vizinhos”, explica o arquiteto.

“Nosso maior desafio neste projeto foi modelar em 3D mais de cem obras de arte e mobiliários assinados que fazem parte do colecionismo dos clientes e simular a presença de todas essas peças no projeto para que tudo ficasse harmônico”, finaliza o arquiteto Fabiano Ravaglia, do FPR Studio.





















