Durante quatro décadas, a psicóloga e especialista em gerontologia Laura Machado ajudou idosos e suas famílias a se adaptarem ao processo de envelhecimento. Ao completar 60 anos – e conhecer um novo amor –, ela decidiu, ao lado do marido, que era hora de também preparar seu projeto de velhice. E o primeiro passo deveria ser encontrar um lugar onde pudessem viver bem até os dois ficarem velhinhos juntos, ainda que, em algum momento dessa trajetória, um deles, ou ambos, passasse a ter necessidades especiais ou algum tipo de dependência.
“Quando estamos bem, ativos e independentes, não pensamos em como vamos estar daqui a alguns anos. Mas a verdade é que a longevidade é a grande conquista do século e precisamos nos preparar para ela. Esta reforma foi feita por prevenção. Porque quando a dependência chega, fazer uma obra às pressas com todas as adaptações necessárias, além de mais caro, é muito mais difícil”, explica Laura, com a sabedoria acumulada por quem, desde os anos 1990, atua em políticas públicas nacionais e internacionais para a construção de um envelhecimento digno.
Para a empreitada, que durou quase um ano, Laura contou com o arquiteto Mauricio Nóbrega – do elenco CASACOR Rio – que fazia reuniões semanais com os proprietários e sua equipe para fazer todos os ajustes necessários tanto para atender às necessidades (atuais e futuras) do casal, quanto para respeitar todas as normas ABNT de um imóvel acessível.
O apartamento em Ipanema (RJ) – bairro escolhido por ser plano, de fácil acesso e oferecer uma grande variedade de serviços – tinha originalmente quatro quartos distribuídos em 150 m². “O projeto foi um verdadeiro ‘quebra-cabeça’ para atender a essas demandas. Precisávamos pensar em como criar ambientes que pudessem ser transicionais e adaptáveis, com múltiplas utilizações ao longo dos anos, e ainda em como deixar o imóvel claro e arejado e com amplitude para passagem de cadeiras de rodas, por exemplo“, conta Mauricio.
A primeira medida foi ampliar todas as portas e vãos que passaram a ter 90 cm. Os banheiros ganharam atenção especial com boxes e pias que permitem a retirada fácil do vidro e dos armários. Tudo para facilitar o uso futuro de cadeiras de rodas, caso seja necessário.
O piso cimentício (e não escorregadio) é o mesmo em todo o apartamento. A área de serviço foi pensada para ser prática e funcional. E a cozinha é separada da sala de jantar por uma porta de correr que, quando aberta, permite muita entrada de ventilação e iluminação naturais.
Outra mudança importante foi na configuração da área íntima. Os quatro quartos originais foram transformados em duas suítes separadas por uma porta de correr. Hoje, o espaço funciona como um único quarto com closet e brise por onde se avista a praia, sala íntima, banheiros independentes para ele e para ela e uma bela vista para o mar. Mas, quando a filha que mora fora vem visitar, a porta se fecha, e o uso pode ser adaptado. No futuro, inclusive, a segunda suíte poderá também ser ocupada por cuidadores, se houver necessidade.
O apartamento ganhou ainda um home-office integrado à área social por venezianas de correr, já que hoje tanto Laura como o marido seguem ativos e trabalhando muito. Mas, no futuro, o espaço pode ganhar outros usos, sem a necessidade de obras.
A compra e reforma do imóvel também significou outra grande mudança na vida do casal. Antes, eles moravam separados em residências muito maiores: ela, em uma casa de três andares cheia de escadas no alto de uma ladeira; ele, em um amplo apartamento de 350 m² nada acessível.
“Foi também um grande exercício de desapego. De pensar: o que eu realmente preciso para viver nessa idade? Eu preciso de muito menos coisas do que eu tenho. Então, desde que comecei esse novo projeto de vida, e velhice, vendi meu carro, me mudei para um bairro onde posso fazer tudo a pé e simplifiquei a vida carregando comigo só o essencial para viver leve e com qualidade por muitos e muitos anos”, finaliza Laura.