A arquitetura hostil é um tema cada vez mais debatido entre arquitetos, urbanistas e sociólogos por levantar questões sobre como o desenho urbano impacta a convivência nas cidades. Trata-se de uma estratégia que, em vez de acolher, busca em determinadas áreas da cidade.

O que é arquitetura hostil
A arquitetura hostil, também chamada de “arquitetura defensiva” ou “arquitetura excludente”, se manifesta por meio de elementos comuns ao ambiente urbano — como bancos divididos por barras, superfícies inclinadas, pinos metálicos ou ausência de sombra em áreas de descanso — que dificultam o acesso e desencorajam o repouso prolongado.

Esses elementos não são apenas estéticos e revelam uma intenção de ordenamento do espaço, influenciando o comportamento e o fluxo de pessoas. O tema desperta reflexões sobre o papel do design na vida urbana: até que ponto as decisões arquitetônicas moldam as relações sociais e o acesso à cidade?
Impactos da arquitetura hostil

Mais do que aspectos físicos, a arquitetura hostil toca em uma dimensão simbólica: quem pode ocupar o espaço público e de que forma. Essas decisões interferem na experiência da cidade e na sensação de pertencimento, influenciando o modo como as pessoas interagem com o entorno.

Especialistas como o arquiteto Jan Gehl, autor de Cidades para Pessoas, defendem que o desenho urbano deve priorizar a escala humana, onde ruas, praças e calçadas devem convidar à permanência e ao convívio. Nesse sentido, o conceito de urbanismo afetivo surge como contraponto — promovendo projetos que despertam conexão emocional, conforto e bem-estar, como hortas comunitárias, mobiliários colaborativos ou áreas de descanso compartilhadas.

David Harvey reforça essa crítica ao afirmar que o “direito à cidade” é o mais negligenciado dos direitos humanos. Ao impedir o uso democrático do espaço, a arquitetura hostil mina a essência da vida urbana: a diversidade, o encontro e a convivência entre diferentes culturas e realidades sociais.
Caminhos para cidades mais acolhedoras
Diante da arquitetura hostil, surgem movimentos de resistência conhecidos como contra-arquitetura. São ações espontâneas, coletivas e criativas que buscam reverter ou denunciar as práticas excludentes.

Cidades como Lisboa, Barcelona e Medellín têm se destacado por investir em projetos de requalificação urbana baseados no urbanismo social. No Brasil, experiências pontuais em praças de Belo Horizonte e Recife também mostram que é possível construir espaços mais humanos, com bancos amplos, abrigos e áreas verdes que convidam ao encontro.

Ainda, a Lei nº 14.489/2022, conhecida como Lei Padre Júlio Lancellotti, proíbe o uso de elementos de arquitetura hostil em espaços públicos, reforçando a importância de um urbanismo voltado ao conforto e à acessibilidade.

Essas experiências demonstram que pensar o espaço urbano vai além da estética: trata-se de criar lugares de permanência e pertencimento, onde o design serve como instrumento de empatia e bem-estar coletivo.

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