Hortas urbanas: o que são e como transformam as cidades
Hortas urbanas têm impacto direto na alimentação saudável, na geração de renda e no fortalecimento de redes locais. Conheça mais sobre essas iniciativas!

Nos últimos anos, um movimento silencioso tem transformado calçadas, terrenos baldios, quintais e até telhados nas grandes cidades: as hortas urbanas. Mais do que uma tendência, elas representam um modo de repensar o espaço urbano, promover sustentabilidade, fortalecer comunidades e melhorar a alimentação. Em meio ao concreto, surgem hortaliças, ervas, temperos e uma nova forma de convivência entre os moradores.

Além dos benefícios ambientais, as hortas urbanas estimulam o senso de pertencimento, favorecem a biodiversidade local e ajudam na educação ambiental. Para quem deseja se engajar nessa prática, entender o conceito, as formas de implantação e as exigências legais é essencial.
O que são hortas urbanas?

Hortas urbanas são espaços dentro das cidades destinados ao cultivo de plantas comestíveis, como verduras, legumes, temperos e frutas. Elas podem ser públicas ou privadas, comunitárias ou individuais, localizadas em escolas, parques, terrenos públicos ociosos, quintais, varandas e até em pequenos vasos de apartamentos.
O conceito está diretamente ligado à agricultura urbana, prática que busca produzir alimentos em meio ao ambiente urbano com métodos sustentáveis e de baixo impacto ambiental. Além de reduzir a dependência de alimentos vindos de áreas distantes, as hortas urbanas ajudam a reutilizar resíduos orgânicos, reduzem a emissão de carbono e promovem segurança alimentar.
Esses espaços também têm uma função social importante: ao reunir vizinhos e moradores em torno do cuidado com a terra, promovem a integração comunitária e o acesso igualitário a alimentos frescos e saudáveis.
Horta urbana e o direito à cidade

Criar e manter uma horta urbana vai além da produção de alimentos — é também um exercício do direito à cidade, conceito que defende o acesso democrático de todas as pessoas aos espaços urbanos, com participação ativa na construção, uso e gestão desses lugares.
Ao transformar terrenos públicos ou privados ociosos em áreas produtivas e comunitárias, os moradores reivindicam uma cidade mais verde, justa e inclusiva. A horta urbana, nesse contexto, torna-se símbolo de resistência e de apropriação do espaço urbano por quem vive nele diariamente.
Além de melhorar a paisagem, essas hortas promovem bem-estar, segurança alimentar, educação ambiental e laços sociais. Elas materializam o direito dos cidadãos de moldar suas cidades de forma mais sustentável, humana e colaborativa.

Um bom exemplo de ferramenta de apoio a esse processo é o manual de hortas urbanas desenvolvido pelo Instituto Pólis, em parceria com a Fundação Banco do Brasil, no âmbito do projeto Moradia Urbana com Tecnologia Social. A cartilha foi criada com o objetivo de melhorar a alimentação das pessoas, beneficiar o ambiente urbano e fortalecer o vínculo das comunidades com seus bairros por meio do cultivo ecológico de alimentos e ervas medicinais.
O conteúdo é voltado para diferentes realidades locais e apresenta diversas formas de cultivo, como hortas tradicionais, jardins, canteiros suspensos e sistemas alternativos adaptáveis a pequenos espaços. O manual está dividido em três partes:
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Preparação da horta – orientações sobre escolha do local, tipos de canteiros, ferramentas e compostagem;
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Cultivo das hortaliças – técnicas de plantio, irrigação, controle natural de pragas e calendário de cultivo;
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Preparo dos vegetais – sugestões de receitas simples e nutritivas com os alimentos colhidos.
Esse tipo de iniciativa fortalece o direito à cidade ao fornecer conhecimento acessível e incentivar práticas sustentáveis que unem saúde, educação, cultura e meio ambiente.
Como criar uma horta urbana?

Criar uma horta urbana pode ser mais simples do que parece. O primeiro passo é identificar o espaço disponível, que pode variar de uma área comum no condomínio a um terreno baldio com potencial de uso coletivo. A seguir, é importante planejar:
Escolha do local: deve receber luz solar direta por pelo menos 4 a 6 horas por dia. É necessário observar também a facilidade de acesso à água.
Tipo de horta: pode ser vertical (ótima para espaços pequenos), em canteiros, em vasos ou suspensa.
Solo e adubação: o solo precisa ser fértil e livre de contaminantes. É recomendável o uso de composto orgânico, que pode ser produzido a partir de restos de alimentos (compostagem).
Seleção de plantas: opte por espécies que se adaptam bem ao clima local e ao espaço disponível. Alface, cebolinha, rúcula, tomate cereja e manjericão são boas opções para iniciantes.
Manutenção: rega, poda, adubação periódica e controle de pragas são tarefas simples, mas essenciais para o bom desenvolvimento da horta.
Leis e permissões

Para quem deseja cultivar uma horta urbana em espaços públicos ou coletivos — como praças, calçadas largas, canteiros centrais ou terrenos baldios — é fundamental entender a parte legal e burocrática do processo. Apesar de parecer simples, utilizar áreas públicas requer autorização formal da prefeitura ou do órgão responsável pela administração daquele espaço.
Onde podem ser feitas hortas urbanas?
As hortas podem ser implantadas em diversos locais, como:
- Terrenos públicos ociosos ou abandonados;
- Áreas verdes municipais (como praças e parques);
- Canteiros centrais de avenidas e calçadas largas;
- Escolas, unidades de saúde e centros culturais;
- Telhados de edifícios públicos ou comunitários.
Em todos os casos, é essencial verificar a destinação legal do espaço: nem todo terreno público pode ser usado para cultivo. Por isso, o primeiro passo é identificar quem administra o local (Secretaria do Verde, Meio Ambiente, Subprefeitura, ou Patrimônio Municipal, por exemplo).

Como pedir autorização para usar um terreno da prefeitura?
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Identificar o terreno e reunir informações: localização exata, estado de conservação, uso atual e potencial da área.
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Consultar a prefeitura: é necessário ir até a subprefeitura ou órgão responsável pelo território onde está o terreno e solicitar informações sobre sua destinação, registro e possibilidade de uso.
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Apresentar um projeto básico: muitos municípios exigem um plano simples com:
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Objetivo da horta (comunitária, educativa, terapêutica);
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Responsáveis pela manutenção;
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Tipo de cultivo pretendido;
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Cronograma de implantação;
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Impacto social ou ambiental esperado.
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Assinar termo de permissão ou cooperação: caso o projeto seja aprovado, pode-se firmar um Termo de Permissão de Uso ou um Acordo de Cooperação com a prefeitura. Isso dá respaldo legal ao uso do terreno por um período determinado e define deveres e responsabilidades de ambas as partes.

Exemplos de políticas públicas existentes
Cidades como São Paulo, Porto Alegre, Curitiba e Recife já contam com programas municipais que incentivam a agricultura urbana e orientam sobre a regularização de hortas em espaços públicos. Em São Paulo, por exemplo, o projeto Ligue os Pontos e a Rede Hortas Urbanas SP conectam cidadãos a terrenos municipais e oferecem suporte técnico.
Além disso, o Estatuto da Cidade (Lei Federal nº 10.257/2001) e o Plano Diretor de cada município são documentos que norteiam o uso do solo urbano e podem conter diretrizes sobre agricultura urbana.
Para evitar problemas, nunca inicie o plantio em áreas públicas sem autorização prévia. A ocupação irregular pode resultar em remoção da horta ou sanções legais. Caso o terreno seja privado, é possível negociar diretamente com o proprietário um termo de cessão de uso — em alguns casos, com isenção de impostos municipais como contrapartida.
Atenções ao criar uma horta urbana

Embora o cultivo pareça simples, alguns cuidados são fundamentais para o sucesso da horta:
- Contaminação do solo: muitos terrenos urbanos, especialmente os abandonados, podem conter resíduos tóxicos. Faça uma análise do solo ou opte por canteiros elevados com terra nova.
- Água limpa: a irrigação deve ser feita com água potável ou de reúso tratada, para evitar contaminações.
- Manutenção compartilhada: em hortas comunitárias, é essencial organizar mutirões e escalas de cuidado para garantir a continuidade do projeto.
- Proteção contra vandalismo: o cercamento ou sinalização da horta pode ajudar a protegê-la e conscientizar a população sobre seu valor.
Exemplos de hortas urbanas

Algumas hortas urbanas brasileiras tornaram-se referência não apenas pelo cultivo, mas pela transformação social e ambiental que proporcionaram. Confira alguns exemplos:
- Horta das Corujas (SP): localizada na Vila Beatriz, em São Paulo, é uma das mais conhecidas do país. Administrada por moradores e voluntários, oferece oficinas e eventos educativos.
- Horta Comunitária da Glória (RJ): situada em uma praça pública no bairro da Glória, no Rio de Janeiro, reúne vizinhos e promove eventos culturais.
- Horta do Ciclista (Campinas, SP): instalada em um canteiro de avenida, é um exemplo de ocupação criativa de espaços públicos com cultivo de alimentos.
- Horta Comunitária da Vila União (Fortaleza, CE): projeto de agricultura urbana voltado para famílias em situação de vulnerabilidade alimentar.
- Hortas nas Escolas (diversas cidades): programas educacionais têm incentivado o uso de hortas escolares como ferramenta pedagógica e de alimentação saudável.
Esses projetos mostram que é possível cultivar não só alimentos, mas também valores, laços sociais e uma nova relação com o espaço urbano. A horta urbana é, portanto, um gesto simples que carrega o potencial de mudar cidades inteiras — um canteiro de cada vez.
Esse texto foi feito com apoio de CASACOR Publisher, um agente criador de conteúdo exclusivo, desenvolvido pela equipe de Tecnologia da CASACOR a partir da base de conhecimento do casacor.com.br. Este texto foi editado por Yeska Coelho.