O ambiente importa. Ou melhor: “o ambiente devolve”, afirma Thais Trentin, arquiteta de espaços corporativos há mais de 25 anos. A base dessa afirmação são as pesquisas de neurociência aplicadas à arquitetura: a chamada neuroarquitetura entende que fatores como cores, iluminação e decoração dos espaços, somados às características pessoais do público que os frequenta, impactam — de maneira positiva ou negativa — o bem-estar dos indivíduos.
Segundo Thais, um ambiente físico agradável é capaz de ativar a motivação e o interesse dos indivíduos que o coabitam, por meio de estímulos à cognição humana. No caso dos espaços corporativos, isso é ainda mais visível: “É por isso que nós dizemos que o ambiente devolve. Um ambiente que desperta interesse faz a jornada do dia dos indivíduos ser mais produtiva, garantindo uma melhor performance e resultado“, explica a arquiteta.
A profissional aponta que a influência do entorno se tornou evidente durante a pandemia da Covid-19, momento em que as pessoas foram obrigadas a improvisar e reinventar os seus respectivos ambientes de trabalho. “Houve situações em que a pessoa trabalhou o dia inteiro sentada no sofá, totalmente sem ergonomia, e acabou com a coluna, ou não tinha uma iluminação adequada, antecipando problemas de visão”, descreve Thais.
O escritório perfeito existe?
Como arquiteta de espaços corporativos, Thais relata que criar ambientes que promovam o bem-estar é uma tarefa que varia de projeto para projeto. Segundo ela, promover bem-estar para os colaboradores significa pensar na cultura e personalidade de cada espaço corporativo: “O bem-estar é isso: quando o ambiente consegue proporcionar experiências ao longo do dia que tragam conexões à pessoa e, principalmente, façam ela sentir que faz sentido estar dentro daquele ambiente”.
Mas existem alguns elementos-chave na arquitetura de interiores que podem auxiliar no desenvolvimento de ambientes de trabalho mais agradáveis — sejam eles espaços de coworking ou home-office. Cabines acústicas, design biofílico, tons de madeira e diversidades de texturas foram algumas estratégias do espaço Conexão by Minimal, coworking projetado na CASACOR São Paulo 2024, que Thais considerou como muito bem-sucedidas nesse propósito.
“A preocupação acústica, a preocupação com elementos naturais e a harmonização das texturas fazem o projeto ser mais rico em detalhes e mais aderente. É um ambiente que ativa e desperta interesse”, explica Thais.
A importância das cores
Quando o assunto é saúde no ambiente de trabalho, o círculo cromático é uma questão a se considerar. Não existem interpretações universais para as cores e suas diversas matizações, luminosidades ou saturações, afirma Márcia Holland, arquiteta e urbanista autora do livro A Essência das Cores. Entretanto, segundo a profissional, o conhecimento e a aplicação criativa do universo cromático possui a capacidade de promover bem-estar ao indivíduo, seja no ambiente de trabalho ou no lar.
Isso significa que a melhor escolha de cores é aquela capaz de evocar o sentimento de pertencimento no indivíduo, explica Márcia: “As cores impactam e influenciam no campo das emoções e, principalmente nos níveis atencionais, ou estados de atenção. As cores que escolhemos para pintar paredes e teto, assim como todos os materiais presentes no espaço, devem apresentar uma harmonia entre si e estar de acordo com o dicionário cromático de cada pessoa”.
A especialista ainda aponta para dois fatores importantes a serem considerados nos projetos de ambientes de trabalho: a escolha da temperatura de cor correlata (TCC) e do índice de reprodutibilidade da cor (IRC) de uma fonte luminosa. A luz ideal é aquela que reproduz cores, padrões, formas e texturas em seu mais alto fator de reprodutibilidade, explica Márcia: “As fontes luminosas que alteram as cores e provocam fadigas visuais, prejudicam não só o foco do colaborador, mas também a sua produtividade”.
Em concordância com Thais, Márcia ressalta a importância do ambiente para o desempenho profissional dos indivíduos: “A cor favorecerá a sua performance”, diz. A recomendação é sempre levar em conta o inventário de cores dos colaboradores, mas, na impossibilidade de aplicar a cores com esta metodologia, ela indica que a aplicação de cores na área superficial seja pensada de forma cuidadosa. “As cores com elevada vivacidade, ou seja, alta saturação, e baixa luminosidade são inadequadas. Neste caso, o importante é evitar fadiga visual e níveis de contraste permanente”, explica.