A CASACOR São Paulo 2024 chegou ao público inteiramente preenchida por arte. Nos ambientes da maior mostra de arquitetura e design das Américas, o espírito artístico se faz presente de diferentes formas — e os murais são uma delas.
Além de colocar os visitantes em contato com a arte nacional, os murais da 37ª edição da CASACOR São Paulo refletem o tema nacional das mostras em 2024: “De presente, o agora“. Ao provocar reflexões sobre ancestralidade e buscar entender como o mundo vive o presente e enxerga o futuro, a temática vive em plena concordância com a pintura desenvolvida pela artista Heloisa Guedes, proprietária do Atelier HLuz, para o projeto Raízes, da Monik Arquitetura e Interiores.
A citação “O futuro é ancestral”, do filósofo e escritor indígena Ailton Krenak, foi norte para a execução do mural presente em um dos banheiros da mostra. A artista conta que mergulhou nos saberes ancestrais de diversos povos originários e criou uma arte que aproxima os visitantes da natureza.
“Vejo flores, árvores, pássaros… Tudo pulsa em harmonia. Movimento, equilíbrio, presença. Misturo cores e encontro novos tons. Desenho o que me vem à cabeça. Invento formas. Esta é a proposta do painel. Compartilhar o sentir de tal conexão. Trazer a essência à presença”, detalha Heloisa.
O protagonismo da vegetalidade brasileira nos murais de CASACOR não para por aí. O grafiteiro Speto criou para o ambiente O sertão é dentro da Gente, assinado por Aline Borges, uma arte baseada em Grande Sertão Veredas, clássico literário de João Guimarães Rosa.
O mural, pintado por Speto em uma parede de taipa, destaca Diadorim, a personagem mais emblemática da obra de Guimarães. Assim como o livro, a arte que compõe o mural foi disposta sem uma ordem narrativa e enfatiza as dualidades da protagonista.
Nos dois gigantescos murais pintados pelos artistas Derlon (à esquerda) e Joana Lira (à direita) para a exposição Ecos Armoriais, curada por Pedro Ariel Santana e Rodrigo Ambrósio, o sertão e a literatura seguem presentes. A instalação foi inspirada no Movimento Armorial, que surgiu na década de 1970 no Recife, com o objetivo de valorizar a cultura popular do sertão.
O desejo de fazer uma arte erudita fincada nas raízes brasileiras é o que norteia essa iniciativa artística, inaugurada pelo dramaturgo Ariano Suassuna, e pauta os murais da instalação. Ao unir elementos ancestrais da cultura nordestina com uma linguagem contemporânea, o mural constrói um panorama atual do Nordeste.
A arte “Sei de onde vim. para onde eu for, eu chego!“, desenvolvida por Joana Lira e uma equipe inteiramente composta por mulheres, dialoga com o espírito mágico presente no armorial a partir de elementos que evocam o universo feminino e a ancestralidade. Figuras como sereias multiseios, olhos de sol, cabelos encobrelados e mulheres de línguas felinas foram projetadas no mural de modo a retratar a potência feminina dentro do espectro da cultura popular brasileira.
“Retratar a potência do feminino é muito o que tem movimentado o meu trabalho nos últimos tempos. Na criação desse mural, isso não foi diferente”, diz Joana.
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Avançando na memória histórica brasileira, o mural da Talavera Brand, que preenche o Living de David Bastos, traz cinco Orixás em sua história, conta a criadora da obra, Fefe Talavera. Enquanto o amarelo representa o amor e fertilidade de Oxum, o vermelho é a justiça, coragem e força de Obá e o verde turquesa escuro simboliza Oxumaré — junto ao desenho da serpente, o que traz movimento e transmutação para a obra. Por fim, nas ilustrações dos ventos e tempestades, é possível observar a presença de Iansã.
Segundo a artista, os Orixás estão dispostos em harmonia no mural, formando um conselho. O equilíbrio e a renovação estão presentes em cada detalhe, conta a autora. “Na arte, a vida se reflete em trajetória, ancestral sabedoria, eterna memória”, diz.
A ancestralidade também foi o que guiou a obra Origem, mural confeccionado por Lucia Moretzsohn para o espaço Minimal Design, projeto do escritório LP+A. Para gerar a sensação de pertencimento ancestral, a artista criou uma aura de acolhimento, ilustrou formas que dão ideia de feminilidade e vigor e optou por cores quentes ligadas à terra.
Essa fusão de cores, formas e sensações foi o que deu nome ao mural Origem. “Origem é o que define a nossa essência. A nossa essência é o que carregamos por toda a nossa vida, apesar das inevitáveis mudanças. Para mim, transfigurar essências é o que dá sentido a arte”, afirma a artista visual Lucia Moretzsohn.
SERVIÇO – CASACOR São Paulo 2024
Onde: Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, 2073 – São Paulo (SP)
Quando: de 21 de maio a 28 de julho de 2024
Horário bilheteria:
Terça a sábado, das 12h às 22h
Domingos e feriados, das 11h às 21h
Bilheteria digital:
https://appcasacor.com.br/en/events/sao-paulo-2024
Valores dos ingressos:
R$ 111 – Inteira
R$ 56 – Meia-entrada
Compra de ingresso de meia-entrada: idoso a partir de 60 anos, estudante apresentando o documento válido com foto ou recibo de pagamento. Deficiente e seu acompanhante (conforme lei 12.933/13). A comprovação de meia-entrada será exigida na porta.