Artista recria cenas do Pq. da Água Branca para ambiente da CASACOR SP
As 42 telas feitas por Iury Simões em aquarela trazem arte, história e representatividade ao café da arquiteta Daniela Andrade

Em um cantinho discreto da CASACOR SP 2025 está uma das homenagens mais poéticas ao espaço que abriga a 38ª edição da mostra: a instalação artística “Parque da Água Branca”, de Iury Simões. São 42 pequenas telas aquareladas que compõem a decoração do café funcional da arquiteta Daniela Andrade. Cada uma delas retrata um personagem que frequenta o parque, incluindo crianças, trabalhadores e animais.

O artista plástico cearense se divide entre o trabalho em uma empresa de tapetes, a criação de conteúdo para as redes sociais e a arte — a qual carrega simbolismos que podem passar despercebidos aos visitantes menos atentos da CASACOR.
Tudo começou com intermédio de Pedro Ariel, diretor de conteúdo e relacionamento da CASACOR. Foi ele quem apresentou o trabalho de Iury Simões à Daniela. A arquiteta ficou encantada com os desenhos, ao que deu-lhe total liberdade para o artista criar o que bem entendesse para a composição de seu ambiente na mostra.

“A gente transformou um espaço que poderia ser só passagem em uma cápsula no tempo. Isso mostra que não existe espaço ruim, existe falta de criatividade!”, afirma Iury em entrevista à CASACOR.
Equidade entre os personagens
Um dos pontos mais interessantes da instalação “Parque da Água Branca” foi a preocupação em retratar os frequentadores do local com fidelidade. Simões conta que fez três visitas ao parque – todas elas com uma planilha em mãos, em que contabilizava quais os personagens que buscava.
“Eu criei um sistema de equidade. Já que eu tinha essa escolha, fiz uma lista e fiquei esperando a pessoa certa passar. Foi um pouco mais desafiador, do contrário teria terminado os desenhos em uma hora facilmente. Mas acho que é importante [pensar em representatividade]”, conta.

Um dos focos do trabalho de Iury, dentro e fora da CASACOR, é retratar trabalhadores. Sua intenção é dar atenção às “pessoas que muitas vezes ficam invisíveis em meio ao caos de São Paulo”. Ele completa: “Aquelas pessoas são reais, mas elas também estão representando todo mundo”.
Técnica chama atenção
Para além do significado poético, o trabalho de Iury Simões também chama atenção pela técnica curiosa. Isso porque o artista desenvolveu as próprias mini-paletas que permitem que ele desenhe com a maior agilidade possível.

São três modelos portáteis: um relógio com 12 pigmentos, um anel com 8 pigmentos e outro com apenas 3 pigmentos (amarelo, vermelho e azul). Graças a eles, o autoentitulado “poeta das cores” consegue finalizar um desenho como os expostos na CASACOR em apenas 12 minutos após uma breve observação de seu personagem.

Sua preferência é sempre por aqueles que estão se movimentando, daí a importância da rapidez. “É tudo muito orgânico. Eu não quero incomodar as pessoas e também não desenho quem faz pose. Se a pessoa não souber que está sendo desenhada, é melhor, mais natural”.
Próximos passos do artista
Não é surpresa que o projeto de Iury Simões esteja conquistando tantos admiradores na CASACOR SP 2025. Com isso, o artista revela estar recebendo diversos pedidos para vender as obras do “Parque da Água Branca” – o que recebeu total liberdade de Daniela Andrade para fazê-lo.

No entanto, o cearense revela que ainda tem dúvidas quanto ao destino das obras após a mostra. “As peças que estão expostas na CASACOR são as originais, eu não faço cópia do meu trabalho. Por isso, minha preocupação é em separar os personagens ou não. Eles foram feitos em uma poética muito específica, então estou pensando se venderei as peças solitárias ou o conjunto inteiro”.

Para além da CASACOR, Iury carrega outro objetivo ambicioso: reunir 1.000 personagens em um novo projeto! A coleção recebe o nome “Andarilhos” e incluiu desenhos feitos em todos os cantos do Brasil.
“Meu real desejo é terminar os mil personagens e conseguir um espaço cultural ou uma galeria para expô-los. Já estou com 800, 820 até agora… Mas faço com calma, na hora certa vai acontecer”, finaliza Iury Simões – com o brilho nos olhos de quem sabe que o valor de sua arte está além das linhas que traça, mas nas histórias que conta pelo caminho.