Mosaicos: a técnica milenar que virou tendência na arte e na decoração
Os mosaicos estão de volta! Técnica milenar ganha novos usos na arquitetura e decoração contemporânea, com destaque no Brasil e no mundo

Os mosaicos têm atravessado séculos como uma forma de arte que une técnica, criatividade e simbolismo. Com origem na Antiguidade, essa técnica consiste na composição de imagens, padrões ou revestimentos a partir da junção de pequenas peças — chamadas tesselas — de materiais diversos, como cerâmica, vidro, pedra e mármore.
Muito presente em templos, igrejas, palácios e monumentos históricos, o mosaico é um testemunho visual da cultura de diferentes civilizações. Na arquitetura e na decoração contemporânea, ele reaparece com força total, reinterpretado por artistas, designers e arquitetos que resgatam sua essência artesanal e a adaptam às linguagens atuais.

Hoje, o mosaico está longe de ser apenas um detalhe decorativo. Ele é usado para valorizar fachadas, revestir pisos e paredes, ou transformar objetos cotidianos em verdadeiras obras de arte.
Sua estética versátil permite aplicações que vão do clássico ao moderno, do rústico ao minimalista, reforçando sua capacidade de dialogar com o tempo.
Com a valorização de técnicas manuais, da personalização e da identidade cultural, os mosaicos voltam ao centro dos holofotes, especialmente em projetos que buscam unir história, arte e função.
Origem e história dos mosaicos

A história dos mosaicos data milhares de anos atrás. Registros arqueológicos indicam que a técnica já era utilizada na Mesopotâmia por volta de 3.000 a.C., inicialmente com pedras e conchas para ornamentação de paredes. Porém, foi na Grécia Antiga, a partir do século V a.C., que o mosaico começou a ganhar contornos artísticos mais definidos, com composições geométricas e cenas mitológicas em pisos e murais.

O Império Romano aprimorou e expandiu o uso dos mosaicos, tanto em residências quanto em edifícios públicos. As obras romanas se destacavam pela riqueza de detalhes e uso de mármores coloridos e vidros, como nos complexos de Pompeia e Herculano.
Na sequência, o Império Bizantino levou os mosaicos a um novo patamar, especialmente em igrejas e basílicas, com destaque para o uso de fundo dourado e representação de figuras religiosas.

Durante a Idade Média, a tradição dos mosaicos foi preservada sobretudo no mundo islâmico e no Oriente, onde ganhou formas geométricas elaboradas, devido à proibição da representação figurativa.
O Renascimento e o Barroco resgataram o uso dos mosaicos na Europa Ocidental, com uma pegada mais pictórica e exuberante. Já nos séculos XIX e XX, o mosaico foi reinterpretado por movimentos como o Art Nouveau, o Modernismo catalão e o Bauhaus, estabelecendo novos caminhos para a técnica no mundo moderno.

Artistas e arquitetos que exploraram mosaicos
Ao longo da história, muitos artistas e arquitetos contribuíram para a evolução do mosaico como forma de arte e expressão arquitetônica. Um dos nomes mais emblemáticos é o do catalão Antoni Gaudí, cujas obras modernistas em Barcelona, como o Parque Güell e a Sagrada Família, utilizam mosaicos de maneira inovadora, com destaque para a técnica do trencadís — a reutilização de fragmentos de cerâmica colorida.

Friedensreich Hundertwasser, artista austríaco do século XX, ficou conhecido por suas construções orgânicas e coloridas, nas quais os mosaicos ajudavam a compor fachadas vibrantes e únicas.

No Brasil, um dos exemplos mais emblemáticos é a Escadaria Selarón, no Rio de Janeiro, criada pelo artista chileno Jorge Selarón como uma homenagem ao povo brasileiro. A escadaria é revestida com mais de 2 mil azulejos de diferentes cores, padrões e origens, em uma composição espontânea e afetiva.

Outro destaque contemporâneo é o mural “Em Busca da Luz”, do artista Ed Ribeiro, considerado o maior mosaico do Brasil. Com cerca de 70 metros de comprimento, a obra foi instalada na escola Traços e Letras, em Catu (BA), e celebra a arte como caminho para a educação e transformação social.

Inspirações contemporâneas pelo mundo
Presentes em praticamente todas as culturas, os mosaicos continuam a inspirar artistas e arquitetos ao redor do mundo, ganhando novas leituras no cenário contemporâneo. Hoje, a técnica se expande para além de sua função decorativa, assumindo papel de intervenção urbana, revitalização de espaços públicos e expressão artística em larga escala.

Entre os nomes de destaque está o britânico Gary Drostle, conhecido por seus painéis e pisos em mosaico que integram arte e paisagem. Seu trabalho combina realismo e narrativa visual, como no mosaico Fish Pond, que transforma o chão em um lago repleto de peixes coloridos.

Na Itália, a artista Verdiano Marzi preserva e reinventa a tradição de Ravena, criando composições que dialogam com a história e a contemporaneidade.

Já a artista israelense Ilana Shafir (1924-2014), mesmo com forte influência modernista, deixou um legado de obras públicas vibrantes, explorando o mosaico como um organismo vivo e dinâmico.

Outros artistas, como a australiana Pamela Irving, conhecida por suas figuras lúdicas e narrativas irreverentes, demonstram como o mosaico permanece em constante reinvenção. Essas produções mostram que, independentemente do continente ou da linguagem adotada, a técnica milenar segue como uma poderosa forma de expressão visual, capaz de unir tradição, cultura e inovação em um mesmo espaço.
Elemento marcou presença na CASACOR 2025

Na edição da CASACOR São Paulo 2025, os mosaicos ganham destaque em uma releitura contemporânea repleta de simbolismo e brasilidade. No ambiente Déjà Vu, assinado pelo escritório Fichberg Arquitetura e Interiores, o piso em mosaico é um dos pontos altos do projeto, que propõe um diálogo sensível entre o passado e o presente por meio de formas orgânicas, luz filtrada e elementos artesanais. Inspirado no movimento Art Nouveau, o espaço incorpora referências à natureza e à cultura brasileira, com um olhar voltado para a biodiversidade, a memória e a identidade.

O piso foi produzido em parceria com o Studio Ceiba, especializado em mosaicos artesanais e formado pelo artista Andrés Añez e pelo arquiteto e designer Eduardo Baldelomar, também integrante do elenco CASACOR. Executado com a técnica do trencadís, popularizada por Gaudí, o trabalho reforça o compromisso com a sustentabilidade ao incorporar porcelanatos reutilizados. A composição retrata frutas tropicais como cacau, açaí, jabuticaba, caju e abacaxi, além de elementos que evocam os povos originários do Brasil.

A atenção dedicada pelos visitantes da mostra a esse detalhe tão especial, assim como aos vitrais que compunham o ambiente, evidencia como as técnicas manuais estão reconquistando espaços na arquitetura e no design de interiores, indo além do valor estético do objeto. Em um mundo onde softwares e inteligências artificiais produzem resultados em segundos, o valor do trabalho artesanal, que exige tempo, dedicação e habilidade, torna-se ainda mais admirado e relevante.
Esse texto contou com o apoio de CASACOR Publisher, um agente criador de conteúdo exclusivo, desenvolvido pela equipe de Tecnologia da CASACOR a partir da base de conhecimento do casacor.com.br. Este texto foi editado por Yeska Coelho.