A Arquitetura Nova foi um movimento brasileiro surgido no final da década de 1960 que buscou repensar o papel do arquiteto, do projeto e da construção na sociedade. Formado por jovens profissionais ligados à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), como Sérgio Ferro, Rodrigo Lefèvre e Flávio Império, o grupo teve como grande referência o arquiteto João Batista Vilanova Artigas, um dos principais nomes da chamada Escola Paulista.

O que foi a Arquitetura Nova?
Durante as décadas de 1950 e 1960, o Brasil viveu um momento de modernização acelerada. Grandes obras públicas e a consolidação da arquitetura moderna, representada por nomes como Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, colocaram o país em evidência internacional.
No entanto, parte da nova geração de arquitetos passou a enxergar limitações nesse modelo, especialmente na distância entre o projeto criado e a mão de obra especializada disponível.

A Arquitetura Nova nasceu dessas reflexões sobre o fazer arquitetônico de fato. Seus integrantes buscavam uma prática mais integrada ao canteiro de obras, com o objetivo de compreender melhor as técnicas, as limitações materiais e as condições reais de trabalho envolvidas na edificação.
O papel do canteiro de obras na Arquitetura Nova
O canteiro de obras foi o ponto central da reflexão do grupo. Para os arquitetos da Arquitetura Nova, ele não era apenas o local físico onde o projeto ganhava forma, mas um verdadeiro laboratório de experimentação, o espaço em que o desenho, a técnica e o saber prático se encontravam.

Nesse ambiente, o arquiteto deveria atuar não como um observador distante, mas como alguém presente e participante, acompanhando e aprendendo com o processo construtivo. Essa visão aproximava o arquiteto dos trabalhadores, promovendo um intercâmbio de conhecimento que tornava o resultado mais coerente e autêntico.

A valorização do canteiro de obras também estava ligada à ideia de transparência construtiva: os projetos da Arquitetura Nova buscavam mostrar como eram feitos, revelando estruturas, encaixes e texturas, sem recorrer a acabamentos que mascarassem o processo. Essa sinceridade material reforçava o vínculo entre o projeto e a prática.
Princípios e características do movimento

A Arquitetura Nova não foi um estilo formal, mas um conjunto de princípios e reflexões sobre a prática da arquitetura. Entre os mais importantes, destacam-se:
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Integração entre projeto e execução: o desenho deveria considerar o processo construtivo desde o início.
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Valorização do trabalho manual: o saber técnico dos operários e mestres de obra era reconhecido como parte essencial da criação arquitetônica.
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Uso racional de materiais: buscava-se empregar recursos disponíveis de forma econômica e sustentável.
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Clareza estrutural e construtiva: as obras eram pensadas para evidenciar o modo como eram feitas, sem esconder vigas, pilares ou texturas.
Essas ideias resultaram em uma arquitetura direta, funcional e expressiva, na qual cada elemento construtivo contribuía para o resultado estético e técnico.
Obras e experiências marcantes
Entre os exemplos mais significativos da Arquitetura Nova estão a Casa Pery Campos (1963) e a Casa Bernardo Issler (1964), ambas em São Paulo.

Projetadas por Rodrigo Lefèvre, Sérgio Ferro e Flávio Império, essas residências sintetizam a busca por uma arquitetura que integra projeto e construção, valorizando o canteiro como espaço criativo.

Mais do que edificações isoladas, essas experiências ajudaram a formar uma nova mentalidade profissional, com uma visão da arquitetura como prática integrada à realidade e não apenas como exercício de criação estética, pensando além da prancheta.
Legado e influência na arquitetura contemporânea
Embora tenha sido um movimento breve, a Arquitetura Nova deixou um legado duradouro. Seu maior impacto talvez tenha sido o de redefinir a relação entre o arquiteto e o canteiro de obras. A ideia de que o projeto deve dialogar com o processo construtivo influenciou profundamente o ensino e a prática da arquitetura no Brasil.

Hoje, muitos dos princípios propostos pelo grupo estão presentes em abordagens contemporâneas, como a arquitetura participativa, o uso consciente de materiais e as construções de baixo impacto ambiental.
Em todas essas práticas, o canteiro volta a ser entendido como espaço de aprendizado e colaboração — não apenas o fim do projeto, mas parte essencial dele.
A reflexão iniciada pela Arquitetura Nova contribuiu para que a arquitetura brasileira se tornasse mais consciente do valor do processo, da técnica e das pessoas envolvidas na construção.
Dos canteiros aos mutirões autogeridos

A partir das reflexões da Arquitetura Nova, alguns de seus desdobramentos práticos se manifestaram nas décadas seguintes em experiências de mutirões autogeridos — iniciativas coletivas em que moradores, comunidades e arquitetos trabalhavam juntos na construção de habitações.

Essas experiências ampliaram a noção de canteiro como espaço pedagógico e coletivo. Essa forma de trabalho, retomada por diversas universidades e movimentos de moradia a partir dos anos 1980, aproximou o fazer arquitetônico de uma dimensão mais comunitária e cooperativa.

Projetos desse tipo buscavam responder a um desafio antigo da arquitetura brasileira: conciliar qualidade espacial e técnica construtiva com os recursos e a participação ativa dos futuros moradores. O livro Arquitetura Nova, de Pedro Fiori Arantes, revisita essa trajetória e destaca como a pedagogia do canteiro inspirou novas formas de organização coletiva no campo da habitação.
Essas práticas revelam que, mesmo diante de diferentes contextos históricos, o ideal de uma arquitetura construída com as pessoas e não apenas para elas continua sendo um dos legados mais consistentes da Arquitetura Nova.
CASACOR Publisher é um agente criador de conteúdo exclusivo, desenvolvido pela equipe de Tecnologia da CASACOR a partir da base de conhecimento do casacor.com.br. Este texto foi editado por Yeska Coelho.