Paredes rústicas levam bossa aos ambientes da CASACOR Bahia
Na CASACOR Bahia, as paredes originais foram preservadas, conferindo aos projetos textura, dimensão e uma proposta muito mais interessante

O equilíbrio entre o antigo e o novo é um dos grandes distintivos da CASACOR Bahia 2025. A mostra, que fica de portas abertas até 07 de setembro, ocupa um endereço até então inédito – a Casa Nossa Senhora das Mercês, na Avenida Sete de Setembro, no centro de Salvador, um dos edifícios mais antigos da cidade. Com quase três séculos de existência, o edifício ganhou uma releitura contemporânea nas mãos dos arquitetos e designers de interiores que ocupam seus espaços com 43 ambientes que traduzem o tema “Semear Sonhos“.
Marco arquitetônico e cultural
A construção que faz parte do rico patrimônio cultural de Salvador merecia uma intervenção à altura. Conhecido pelos soteropolitanos como Convento ou Colégio Nossa Senhora das Mercês, o espaço serviu durante 162 anos como um educandário ligado à Companhia de Santa Úrsula de uso exclusivo para alunas internas. Foi apenas em 1897 que o edifício consolidou-se como um dos mais prestigiados colégios femininos da cidade e, já na década de 1980, passou a aceitar alunos masculinos.

Após 287 anos de funcionamento, o edifício encerrou suas atividades em 2022. Desde então, esta é a primeira vez que os espaços desse marco histórico são explorados pelo público, revelando áreas até então inacessíveis e preservando a memória da sua arquitetura através de um projeto de intervenção assinado pelo escritório GAM Arquitetura, que assina o masterplan da CASACOR Bahia.
Uma coexistência harmônica

Uma das formas que a memória da construção é honrada nos projetos da CASACOR Bahia é através da preservação das paredes originais. Diversos profissionais do elenco optaram por manter as paredes de tijolinhos e, em certos casos, de adobe intactas para dar mais textura, dimensão e originalidade aos projetos – garantindo, assim, uma proposta muito mais interessante. Confira a seguir os projetos onde o equilíbrio entre o antigo e o novo foi atingido através da manutenção das paredes rústicas:
1. Estúdio Judite, por Rodrigo Rodrigues Arquitetura

Em dois dos antigos quartos do Colégio Nossa Senhora das Mercês está o Estúdio Judite, projeto do escritório Rodrigo Rodrigues Arquitetura. O destaque aqui é o grande arco que integra os dois ambientes, somando 40 m2. A parede rústica original, de tijolinhos aparentes, soma-se à outros materiais como o mármore, a madeira e o vidro para criar a base sensorial do espaço, que une living, quarto, cozinha funcional e banho.
2. Raízes Líquidas – Espaço Deca, por Marlon Gama Arquitetura

Assinado por Marlon Gama, Origens Deca traduz o encontro entre história, natureza e tecnologia. Inspirado nas formas orgânicas da água e na herança das casas coloniais portuguesas na Bahia, o projeto propõe uma imersão perceptiva guiada por texturas, fluidez e movimento. Destaque para a união dos azulejos portugueses à parede rústica de tijolinhos descascados, que percorre toda a extensão do living e cozinha.
3. Ateliê de Tebas, por João Gabriel

Com traços do design de meio século, o projeto de João Gabriel é uma homenagem ao legado de Tebas — primeiro arquiteto negro do Brasil. O ambiente – um tipo de estúdio de criação que celebra memória, resistência e permanência negra na arquitetura – caracteriza-se pelas cores verde, mostarda e marrom, além de elementos preservados do imóvel original, como a parede rústica de adobe, que conectam passado e presente.
4. Casa Madre, por Gabriel Magalhães

Com 73 m2, a Casa Madre, assinada por Gabriel Magalhães, foi pensado como a casa de uma mulher contemporânea, criativa e protagonista da própria história, porém, que honra também as referências à memória feminina do antigo convento. O projeto preserva piso, teto e paredes rústicas originais, agora descascadas, e estabelece uma síntese entre passado e futuro. Dividido em sala, cozinha e quarto com banheiro, o espaço une funcionalidade, liberdade e acolhimento.
5. Lavabo Terra e Sal, por Andressa Mâtos Psicoarquitetura

O Lavabo Terra e Sal, assinado por Andressa Mâtos, traduz em arquitetura a própria história da profissional, que tem raízes no Vale do São Francisco e uma conexão especial com Salvador. Paredes e piso em cimento queimado terracota remetem ao solo árido do sertão, enquanto teto e paredes azuladas evocam o mar e a arquitetura popular baiana. A bancada de simples e ao mesmo tempo forte se une às paredes rústicas e a elementos marcantes como carrancas, cobogó em formato de mandacaru, esculturas de barro e cordas náuticas.
6. Bar Secreto, por Márcio Davi Arquitetura

Inspirado nos speakeasies dos anos 1920, o Bar Secreto, assinado por Márcio Davi, convida a um ambiente marcado por mistério, sofisticação e intimidade. A iluminação suave, os materiais texturizados e a paleta de cores sóbria entregam o tom elegante do projeto. O mobiliário sob medida combina conforto e referências a um passado de luxo, ressignificado em uma proposta contemporânea.
7. Living Vitória-Régia, por Avelo Arquitetura

O Living Vitória-Régia, assinado por Daniela Agulha e Luiza Gaspar, propõe um morar sensível, poético e conectado ao presente. O projeto ocupa dois antigos quartos de clausura da Casa Nossa Senhora das Mercês, transformados em espaço de acolhimento e contemplação. Um portal conduz à visão da cúpula da capela, criando conexão entre sagrado, memória e cotidiano.
8. Atelier Acervo Arte e Bossa, por Gabriel Gois

Este é um espaço afetivo que destaca a arte de Véio, com toda a sua identidade e irreverência, fazendo um tributo a Sergipe. É como uma coleção de histórias, que se encontram em momentos distintos, mantendo ainda uma comunicação entre si. Já a arquitetura original do prédio foi preservada e valorizada, com o intuito de conectar o passado e o presente através das paredes rústicas, em um cenário perfeito para exaltar a arte nordestina.
9. Ateliê Liukalu, por Grazi Costantino e Victoria Sales

A arte do trabalho manual e a delicadeza ganham protagonismo aqui, valorizando o fazer artesanal como linguagem sensível e transformadora. Cada detalhe foi cuidadosamente pensado para refletir o processo criativo da artista Danda Leal, desde a escolha das cores e texturas até a exposição dos objetos, valorizando sua história e a força poética do seu trabalho. Este ateliê é um cenário de sonhos costurados à mão, um convite à contemplação, à sensibilidade criativa e ao resgate da capacidade de imaginar e se encantar.