‘Oficina do Amanhã’ inspira a criatividade e a conexão entre as pessoas
A casa-ateliê projetada pela Octaedro Arquitetura traz inspirações da paisagem circundante que se torna um quadro vivo inspirador
Refúgio de criação, conexão e afeto, envolvido pela natureza e pela vista que se funde ao mar, a Oficina do amanhã é um dos destaques da CASACOR Santa Catarina | Florianópolis 2024. Assinado com a elegância irreverente dos arquitetos Emanueli Schneiders e Leonardo Gazzoni, da Octaedro Arquitetura, o espaço convida à criação, ao desenvolvimento e à transformação contínua, unindo o presente e o eterno em perfeita harmonia.
O projeto propõe a ocupação da casa-ateliê através da conexão fluida entre as artes, a naturalidade de seus elementos e a relação importante com a paisagem, a cultura local e a ancestralidade urgindo no presente, de forma a dar impulso à ideia de que o agora é o tempo que temos para pensar, sonhar e construir o amanhã, como criadores que somos.
Abraçando a estrutura do antigo rancho de pesca, a Oficina do Amanhã se estende por uma área à beira-mar onde os arquitetos propuseram espaços para convivência e contemplação. No jardim, envolto pelo paisagismo exuberante, o lounge com lareira se volta à vista para o pôr do sol e à compreensão de que o jardim integra e mimetiza a arquitetura, transformando-se em um elemento uníssono sobre a praia.
As aberturas são emolduradas pelo movimento irregular dos brises em biribas de madeira roliça, de forma a criarem um contraponto de luz e sombra à medida que o sol avança sobre os planos de vidro. Internamente, o hall de entrada revela, aos poucos, a atmosfera intimista e enigmática, ao mesmo tempo em que sintetiza com clareza a intenção do projeto: como refúgio de criação, há arte em tudo, e nas suas diferentes manifestações. Ainda na relação com o jardim, a poltrona/instalação em capim seco “A casa”, da artista Bruna Granucci, revela que tudo é raiz e que, para as transformações do amanhã, há de não se esquecer do ninho, do que permanece.
Adentrando o espaço ambientado por uma seleção criteriosa de mobiliário de design nacional e peças autorais dos arquitetos em madeira rústica, uma extensa mesa em travertino natural se torna espaço de trabalho e, no outro extremo, abriga as tarefas cotidianas de cozinha enquanto, ao fundo, a biblioteca urge e percorre o perímetro do espaço, complementada pelas formas e texturas dos vasos da artista Anamaria Brüggemann e seu trabalho de dar voz ao barro. Sob a grande mesa, uma instalação em rede de pesca caiçara surge como ponto de destaque pelo seu volume e leveza, abraçando a estrutura do casebre como um ponto luminoso de memória e resgate do lugar, da cultura local viva e que vigora em peças como o cacho de bilros desenvolvido pela Associação dos Artesãos de Palhoça, emoldurado pelo verde que, mesmo internamente, ainda vige no espaço.
No estar central, a lareira em bloco maciço de granito rústico parece brotar do piso que, no mesmo material, envolve o espaço social e eleva-se ao fundo do bar, onde a disposição das poltronas permite uma roda familiar de conversa e contemplação para a paisagem. Já na sala frente-mar, o revestimento em madeira natural que envolve o espaço sugere uma moldura, de forma a fazer da vista para o mar um quadro vivo, em movimento, revelando a transformação do dia e do tempo como uma obra a ser contemplada perenemente. Neste espaço, o pendente em Tira Capa Coco, de Mônica Carvalho, empresta cor e movimento guiado pela sutileza do vento e a tapeçaria de Carolina Kroff, no seu volume e sincronia, preenche o espaço de forma sutil e sugestiva: são peças que se complementam mas não se encontram, como ilha e continente, e o espaço entre elas é uma experimentação do infinito.
A Oficina do Amanhã é como uma utopia: como seria o espaço onde nasce o amanhã? Seria, sem dúvidas, no tempo exato e perfeito do agora, e é nele que se pode ser, experimentar, estar no mundo e criar o que veremos dele no amanhã, que pertence a todos.