Felipe Carolo conta inspirações por trás do seu estúdio da CASACOR SP
Responsável pelo Estúdio Theodoro, Felipe Carolo mergulhou fundo nas pesquisas sobre a construção do Parque da Água Branca

Felipe Carolo é um dos estreantes no elenco da CASACOR SP 2025. O arquiteto foi responsável pela criação do Estúdio Theodoro, espaço de 72 m2 que inclui home office, living, cozinha integrada ao jantar, quarto e banheiro – todos divididos por marcenaria abaulada e painéis de madeira com orifícios centrais.

As referências do profissional vão desde o modernismo brasileiro até Bauhaus e a Casa Lana – projeto revolucionário de Ettore Sottsass, realizado em Milão em 1967. Na entrevista abaixo, Felipe Carolo compartilha os detalhes de seu processo criativo, tendências e a realização de já chegar à CASACOR SP como um dos destaques da edição.
1. Conte a proposta e as inspirações do seu projeto na CASACOR SP
“A minha maneira de projetar é contando histórias. Quando surgiu o convite da CASACOR, eu pensei primeiro em buscar a história do Parque da Água Branca [local da mostra em 2025], por ser um patrimônio tombado. Minhas pesquisas foram voltadas para a construção do parque, quem foi o arquiteto responsável e tudo mais. Descobri que o local foi concebido por um britânico, entre 1920 e 1930, a mesma época em que acontecia a Semana de Arte Moderna no Brasil – que veio com essa questão de romper com o eurocentrismo – e a Revolução Industrial, mudando completamente a maneira de se viver.

Enfim, eu fiz uma bela pesquisa e fui encontrando onde me inspirar. Foi então que pensei em não falar apenas de modernismo, mas também de Bauhaus. É uma forma de dialogar com a arquitetura do prédio, com o parque e com o momento que o mundo vivia em sua construção. Inicialmente, meu projeto não tinha paredes, porém teve que ser alterado devido à questão do patrimônio. Eu acredito que isso só valorizou a linguagem que eu estava trazendo. Você pode se imaginar morando ali? Com certeza! Aquilo tem um toque artístico? Tem também!”.
2. Qual a relação do seu projeto com a Casa Lana, de Ettore Sottsass?
“Quando eu apresentei meu primeiro projeto ao Pedro Ariel [Diretor de Relacionamento da CASACOR] era um loft completamente aberto, apenas com uma divisória de bolinhas. Ele olhou e disse: ‘Você tem noção do quanto você se inspirou na Casa Lana?’. Eu não conhecia, mas quando ele me mostrou, eu vi que realmente tinha muito a ver. Isso porque acreditava-se na Bauhaus e no modernismo que você não precisava de muito para se viver, era o mundo dos operários. Todo mundo vivia encaixotadinho – a Casa Lana era assim!

Quando vieram as alterações [devido à estrutura do edifício], as paredes voltam a fazer parte do projeto. Nesse momento, passou a fazer mais sentido ainda. Foi aí onde veio essa questão dos painéis como divisórias. Então, Casa Lana me guiou inconscientemente a encaixotar mais as coisas, setorizar os ambientes e trazer fluidez. Por outro lado, a Casa Lana não tem curvas ou obras de arte em destaque. Essas inspirações vieram das minhas pesquisas posteriores sobre os anos 1970“.
3. E de onde vem o nome Estúdio Theodoro?
“Você quer ver o significado? Ele tá meio sujo, porque não tomou banho. Esse é o Theo, o dono da casa [diz ao segurar seu cachorro nos braços]. Todos os meus projetos são assim, na verdade. A maioria das pessoas cria um personagem para a CASACOR, mas meu personagem é o público que se identifica com o meu espaço. Eu segui o que eu sigo para a minha vida: todos os meus projetos pessoais seguem nomes de pessoas ou cachorros. Sou cachorreiro, por que não chamar o espaço da CASACOR de Theodoro?”.
4. Quais os materiais que mais se destacam no seu ambiente?
“Eu amo pedra natural, mármore, granito, quartzitos… Mas nesse projeto eu quis apresentar um Felipe diferente. Quando eu vi esse espaço, eu soube que queria usar cores. Então, eu escolhi os materiais a partir das cores que davam match. Uma coisa engraçada é que, apesar disso, eu sou daltônico. Foi uma ousadia para o meu olhar das cores [risos].

A fórmica veio como peça-chave quando eu pensei nas curvas. Destacaria esse como o material principal, mas o vidro também foi importantíssimo. Trabalhamos com uma artesã para fazer o efeito soprado no vidro. Além disso, teve o material que eu consegui restaurar: o piso de tacos! Eu acho que ele conta uma história, tinha muito mais a ver a gente mantê-lo o mais perfeito possível do que adicionar outras coisas para falar da história do edifício, né?”.
5. Tem algum elemento do projeto que você aponta como uma tendência de decoração?
“As cores terrosas, sem sombra de dúvida! Na verdade, eu iria além disso: esses tons fazem parte de uma tendência acima, que é a década de 1970. De maneira geral, essa brincadeira de equilibrar o vintage com o contemporâneo a gente vê muito na CASACOR desse ano. Outra coisa a acrescentar é que todo mundo está usando curvas! Mais do que nunca elas estão vindo para ficar”.
6. Fale sobre a escolha das cores primárias e como você fez para não pesar o visual.
“Todo o projeto partiu da ideia de usar formas puras e cores primárias. Mas como fazer isso em um ambiente em que você precisa viver? A resposta foi apostar em tons terrosos. Então, fui buscando referências de materiais e concebendo dessa forma. Quando eu trago essas cores, é para mostrar que dá para você ser colorido sem chocar. Sem aquela coisa pesada, sabe?”.

7. Seu projeto inclui, quase de maneira equivalente, obras de arte geométricas e orgânicas. Como equilibrou as duas estéticas?
“Quando você usa um tapete colorido, como eu coloquei, você pode seguir dois caminhos: colocar uma obra de arte ton sur ton, que se apague ali, ou você pode assumir que ela tem uma presença autônoma na decoração – é nisso que eu acredito! Inicialmente, eu fiquei na dúvida se tudo precisava ser geométrico, porque o espaço é geométrico. Mas a verdade é que os quadros se encaixam de maneira subjetiva.

Quando eu finalizei, percebi que, ao entrar no ambiente, você só vê formas orgânicas. Quando olha do lado oposto, tudo é geométrico. Acho que foi inconsciente, eles simplesmente se encaixaram de maneira bizarra. É o que eu sempre digo: ‘o tapete veste o chão, as cortinas e os quadros vestem as paredes'”.
8. Esse projeto marcou sua estreia na CASACOR, com direito a capa do anuário. O que o Estúdio Theodoro diz sobre você e seu trabalho?
“Do fundo do meu coração, eu posso dizer que eu não esperava nada disso. Existe certa sensibilidade no meu trabalho, gosto de deixar as coisas fluírem aos poucos. Eu queria entregar uma coisa diferente para a CASACOR e, principalmente, para mim. Então, fui encontrando essa autenticidade em meio às minhas pesquisas.

Eu nunca esperei que seria capa de um anuário logo de cara. Eu entreguei tudo o que podia, da melhor maneira possível e fiquei muito feliz. Me preparei para receber muito mais críticas negativas, achei que ninguém entenderia meu espaço. Mas se meia dúzia de pessoas entendesse, já estaria tudo bem. Foi um presente depois de tanto trabalho.

Eu demorei quatro anos para chegar à CASACOR, me preparando para esse momento. Tenho 12 anos de formado e 10 com o meu próprio escritório, sabia bem onde queria chegar. Hoje posso dizer que a CASACOR é um divisor de águas na carreira de um profissional de arquitetura. Eu sempre ouvi isso e agora posso confirmar que realmente é. Mesmo se eu não fosse capa, já mudou a minha vida profissional”.
9. Como o seu ambiente se relaciona com o tema Semear Sonhos?
“Querendo ou não, estar na CASACOR é um sonho. Todos entregam aquilo que podem, não sou o único. Então, existem dois sonhos acontecendo ao mesmo tempo: o meu como arquiteto e o sonho dialogado no nosso espaço, com as escolhas de materiais, estrutura… e tudo o que traz aquela sensação de sonhar. Tudo fluiu muito bem, o tema não poderia ser outro”.